terça-feira, outubro 30, 2007

a poesia me possuiu e estou prenhe
o que cresce cá dentro
é um mundo, é um monstro
as palavras que não quero parir
o fruto é bastardo e arregaça meus secretos
desnuda minhas entranhas
pra poder nascer, me mata

segunda-feira, outubro 29, 2007

meu suor impregnado de palavras
teu peito como mordaça
pra não precisar dizer

sábado, outubro 27, 2007

restos pela janela
as cordas do violão.
o cinzeiro vazio.
o sabonete.
meia garrafa de uísque barato.
a parede verde.
muitos pratos.
o beijo que protege a tela do computador.
o coração.
aquela escultura de arame.
o espelho com barba.
o bloco em branco.
o imã.
os elos sem dedos.
a escova de dentes - a azul.

sexta-feira, outubro 26, 2007

me seduz, me devora, me alicia
a palavra me toma
mãos dadas em portão na madrugada
rouba meus beijos, asfixia
quase alívio, até monotonia
a palavra me quer nua,
a palavra me faz sua
eterna namorada

quinta-feira, outubro 25, 2007

não se fere a intimidade de uma mulher
não se marcam a ferro suas entranhas
não se enfia uma adaga em seu sexo
só aquilo que é majestoso entra na casa
no seu corpo só há espaço para o sagrado
o pau não é mais um pau
é ouro, tesouro que ela mais que esconde, guarda
torna-o brinquedo e alimento
torna-o templo em que se deposita bendita
e se eterniza em lava e gozo.
ajoelha-te diante do perfeito divino
na tua boca age a língua ignota, babel
eleva-te para conhecer o espaço infinito
sê mais que homem, sê inteiro
profano, o corpo é só passagem

segunda-feira, outubro 22, 2007

em forma de coração
escreve em riscos de giz
mil voltas sem direção
giros em torno de si

nuvem de doce odor
do verde frasco escapam
é o cheiro do amor
embriagando os que passam

um guarda o gosto de fruta
outro o cheiro do mato
um, de madeira bruta
outro, de fino trato

surpresa, prenda mimosa
cheira a maracujá e caqui
mira o bailar do pião
o brinquedo do guri

domingo, outubro 21, 2007

Poema em 5

cintilante
brilho eterno brilho
de onde vem e para onde vai
a delicadeza de ser
eterno
instante permanente
respondo sim
imponho não
metamorficamente
sem fim
em ti, em mim
metafórica mente

(poema a cinco mãos: Bel, Rita, Kelvin, Bina e Clau)

sábado, outubro 20, 2007

a madrugada acorda
sobressaltada
susto
balançam os braços
caem suas folhas como água
lua não vê
a noite é uma venda
tudo frio
tudo seca
nem dói
as nuvens todas passam
longe
era só vento

quinta-feira, outubro 18, 2007

atravessou o espaço apinhado do bar,
encontrou pouso na cadeira ao lado da minha,
apossou-se dela e anunciou
- só com os olhos -
você é a próxima.

Continuei blasé,
a mais perfeita bêbada,
numa completa ignorância
de fato e de qualquer linguagem.

Ele continuou me olhando, um silêncio,
falando aquela língua que eu conhecia bem.
(Ou seria ela quem conhecia bem cada centímetro de pele do meu corpo?).

Eu sorria com mil dentes para o outro,
o direito, que tocava minha perna quando ria.
Tentava esconder o desespero de me saber abatida
pelos (ah, malditos!) olhos castanhos do avesso.

Eu sabia de todas as suas certezas.
Eu duvidava do tempo que sustentaria o beijo guardado.
Os seus dentes longe do meu pescoço...

Ele então disse vem.
Levantou-se:
um obelisco
um monumento
um falo.

Era mais que um homem.
Era o homem a quem eu pertencia.

O nome escrito nas minhas entranhas sussurrava imoralidades.
O uivo contido premente no ar fumacento e ébrio.

Eu fui.

quinta-feira, outubro 11, 2007

se eu fosse bicho
te unhava, arrancava um pedaço
ou então te devorava
te enredava na minha teia
me enrolava no teu corpo e sufocava
se eu fosse bicho, nem falava
só olhava armando bote
atacava
tempo de respirar?
não dava.
tavas morto se não visse
que tinha bem do teu lado
um poderoso bicho

quarta-feira, outubro 10, 2007

Faço estes versos roucos
Pra ver se me escutas
De ouro só tenho a palavra
A minha força mais bruta
Io te voglio tanto bene
Quero que se rendas
I love you, mi amor
Quero que entendas
Mein liebe, je t’aime beaucoup
Quero enredar nossas línguas
Pra que se convenças
AMOR se traduz EU e TU

terça-feira, outubro 09, 2007

sentimento trancado à chave
o estômago digere o sal
antes de virar pranto
no meu espanto, um silêncio rouco
nenhum sopro, só neblina
a menina de dentro
sublima o desejo e espera
balança as pernas
voa devagar enquanto respira
voam as roupas no varal
o tempo pode ser remédio
pra quem tem sorte

segunda-feira, outubro 08, 2007

meu corpo, teu brinquedo
objeto preferido
teu tesouro secreto
um oásis escondido
no mais quente deserto

meu corpo, teu recanto
em mim constróis muralhas
grava-te em milagre e espanto
te escreves anjo e canalha
No aguaçal do meu pranto

meu corpo, teu espaço
território das tuas ávidas mãos
rosas-dos-ventos dos meus passos
enloquece-me feito furacão
no redemoinho do teu abraço