nunca pedir pra não incomodar
nem mais bolacha,
nem pra dormir fora,
nem pra não apagar a luz,
nem pra ganhar colo
não falar muito
não rir alto
se puder, só falar sobre o que é agradável
ser agradável
inclusive aos olhos
ser adequada aos ambientes
frequentar bons ambientes
comer sem descolar os cotovelos
(quem tem asa é galinha)
alimentar boas relações
adequadas
minha avó criava muitos bichos. morava numa casa pré-fabricada que cheirava a quesosene uma vez por ano. eu cheirava a suor, poeira e Kollynos. os dias acabavam no rio às dez horas da noite. as crianças gritavam nas ruas inteiras, encondiam-se, encontravam-se, empulgavam-se com os cachorros e metiam-se com os pássaros nos ninhos. eu tinha medo de sapo, de mboitatá e da foto do tio-avô morto, que ficava sob a renda da cortina cor de rosa. minha avó era um mundo inteiro e cheirava a alho, pão caseiro e colônia de rosas barata.
lá, migalhas eram sobre galinhas e codornas. nunca sobre amor, essa fartura.