sábado, agosto 19, 2023

 quando eu era criança, eu adorava perfurar papéis. pequeninos pontinhos que minha mãe e eu guardávamos,  enchendo caixas com as minhas horas ociosas. era a forma que ela encontrava para continuar trabalhando enquanto eu permanecia entretida na minha missão em fazer confetes. 

uma vez por ano, a cidade fria abria as janelas e sujava de partículas de alegria o ar e as ruas úmidas. meus olhos pendurados no parapeito da janela envaideciam-se, artistas. 

para sempre aquela fotografia moveu-se suave na memória da menina que às vezes desperta no meu peito diante da felicidade miúda do cotidiano.


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