quarta-feira, outubro 13, 2010

Morrer um pouco

Era como se tivesse rasgado o peito frágil em que escrevera seu único poema. E tocado o fósforo ali depois de riscá-lo mecanicamente na caixinha que guarda o café portenho.

As lembranças não são sempre fumaça?

O amor enrodilhou-se anelado diante dos meus olhos mudos e subiu ao céu. Defunto.

terça-feira, outubro 05, 2010

Exercício de dizer

Havia nela ainda um quê de brisa. Não se sabia de onde vinham os cabelos em fúria ou o sempre cheiro de mato na pele. Era toda selvageria guardada na boca bem selada. Diferente de todas da casa, mais se aproximava era de Brusque, a gata arredia, ou das árvores do quintal. Silenciosa, o que deixava escapar às vezes eram ruminações de menina em brinquedos secretos roubados dos livros: dragoínas voejantes, docerejas, grumins.
Passarinhando pela casa, em arrulhos de coquetes, as outras irmãs. Saias de goma, fitas, cabelinhos. Orbitando sobre a mãe ocupada em fazê-las boas. Mulheres um dia. Donas. Agora todinhas filhas, filhotes sobre a asa gorda e regina.
Ina. Menos que substantivo concreto. Pedaço de nome: Catarina, menina, sina. No mesmo livro prendia seus olhos de bicho devorando as figuras já pálidas. Ninguém a via, alheia de tudo na sua roda de inventar o mundo.