No quintal da minha casa nasceu um deserto
Eu era pequena e gostava de queimar as solas dos pés na areia quente
Me fazia gigante e tocava com dedos de sombra o horizonte
Plantei toda querência nos fundos da minha infância
Pra inundar para sempre o meu particular sertão
quinta-feira, março 27, 2008
quarta-feira, março 26, 2008
quando eu era menina, eu gostava dos muros
havia o da escola e os beijos fugidios
capote que protegia o corpo dos olhos e do minuano
o da casa era travesseiro
compartilhar de estrelas
gaveta de cochichos
em todos me escondia
tornava-me grafite
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chovia
minha cidade tem um muro e ele não é meu
guarda os cabelos de um rio
ondas vermelhas em fim de tarde
suas meninas não tem segredos
nem corpos que se escondem
gravuras coloridas
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chove
havia o da escola e os beijos fugidios
capote que protegia o corpo dos olhos e do minuano
o da casa era travesseiro
compartilhar de estrelas
gaveta de cochichos
em todos me escondia
tornava-me grafite
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chovia
minha cidade tem um muro e ele não é meu
guarda os cabelos de um rio
ondas vermelhas em fim de tarde
suas meninas não tem segredos
nem corpos que se escondem
gravuras coloridas
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chove
terça-feira, março 25, 2008
sexta-feira, março 21, 2008
Um dia para Tiago
Acordou cedo, como sempre. Varrendo a escuridão e abrindo as janelas pra esvoaçar o sol pela calçada. Espantou os bêbados e seus tijolos. Adormeceu os postes. Fazia isso com a lentidão de quem repete por séculos o mesmo gesto. Uma letra tocando as margens do caderno de caligrafia, e de novo, e de novo, até tornar-se esfera. Como o sol que agora cochilava sobre os telhados da vizinhança. Um gato. Gordo. Como ele, pachorrento e velho. Sem uma utilidade qualquer. O dia postou-se em andor, pra ser santo. Respirou fundo. Era sertão na cidade baixa, mas o cheiro era de mar.
domingo, março 16, 2008
podia ser de março
pau, pedra, temporal
80% do meu corpo
a gota que falta pro final
berço de jangada e boto
podia banhar a menina que passa
espelho de lua com rã ancestral
podia ser chuvinha miudinha
podia chover sem parar
Odoiá, Yemanjá
podia encher a maré
abrir-se pelas mãos de Moisés
guardar o sal nas lágrimas de Portugal
agigantar-se, quase terra
sob aurora boreal
podia faltar, até
se não fossem seus olhos
azul seria só água
pau, pedra, temporal
80% do meu corpo
a gota que falta pro final
berço de jangada e boto
podia banhar a menina que passa
espelho de lua com rã ancestral
podia ser chuvinha miudinha
podia chover sem parar
Odoiá, Yemanjá
podia encher a maré
abrir-se pelas mãos de Moisés
guardar o sal nas lágrimas de Portugal
agigantar-se, quase terra
sob aurora boreal
podia faltar, até
se não fossem seus olhos
azul seria só água
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