sexta-feira, maio 30, 2008

No espelho partido
Alice espia o mundo
e todas as cabeças cortadas

segunda-feira, maio 26, 2008

Passa por mim
rio, riso, minuano
ponte para as lembranças

Peça
um monte de areia
um tanto de ar
um resto de amor

Diante dos olhos
o passado dá voltas
em torno do círculo

quinta-feira, maio 08, 2008

Considerações sobre nada

Estou lendo "Cartas apaixonadas de Frida", uma complilação das mensagens da artista mexicana Frida Kahlo aos seus amores: amigos queridos, familiares, namorados, amantes. Inspirador. Dá vontade de sair escrevendo tudo o que se passa na cabeça a qualquer das pessoas que rouba meus pensamentos. E é o que tenho feito.

São as cartas que eu não mando. O dia triste e o amor ainda guardado confessado ao amante perdido, a felicidade do riso frouxo que me dá minha filha em sua surpreendente floração, a gratidão aos amigos, as saudades de tanta gente, os medos e perguntas sem respostas aos pais, as expectativas de futuro sobre meus alunos.

As palavras têm escapado de mim como sempre fizeram as lágrimas. Aos borbotões, explodindo, aguaçando. E eu ando seca de qualquer outra coisa que não seja discurso.

quarta-feira, maio 07, 2008

Descansa Galatéia em almofadas rubras
A face morta e perfeita
Descansa Pigmaleão admirado
À sua frente sorri o Amor
Às suas costas ri Afrodite
Mas não é a alva mulher que ele admira
A obra é somente pedra bruta ante o cinzel
O que o artista vê quando grita
É Narciso preso no espelho

segunda-feira, maio 05, 2008

A media luz

Quando ele partiu, Mariana Rosa fumou um maço de cigarros e gastou três pacotes de lenços de papel. Durante um mês a voz dele deitou-se no lado direito da cama e sussurrou imoralidades em seu ouvido. Na última sexta-feira, no lixo do prédio, vários discos de Gardel foram encontrados. Todos quebrados.

domingo, maio 04, 2008

Uma mulher parindo um filho
Um gato no cio no telhado vizinho
Um bêbado dormindo na calçada do outro lado da rua
A vitória do time no campeonato estadual de futebol
Quarenta e seis minutos do segundo tempo
Quarenta e dois milímetros de cabelos a mais na cabeça
Alguns brancos
Um cigarro queimando sozinho no cinzeiro
Uma lista de supermercado
Uma fila de ônibus
Trinta dias
Nomes riscados na agenda de telefone
Três sacolas de lixo
Nove livros que ainda não foram lidos
Chuva
Tudo passa
Antes da cicatriz sempre existe a espera

sábado, maio 03, 2008

Chegou sem que ela percebesse
Tomou conta de seu corpo
de suas noites e de seus dias
Beijou-lhe as mãos, os seios, as têmporas
Tornou-se sua imagem no espelho
Outra e tão conhecida

Na última primavera,
escorregou os dedos sobre os longos cabelos
fechou seus olhos com delicadeza
(para que não o visse partir)

O Tempo não sabia, entretanto,
que a deixara grávida de Vida

quinta-feira, maio 01, 2008

no escuro, sobre o livro morno
descansam os olhos do menino
não há ponteiros pra gerar o tempo
em nuvens caminha o sonho
lento e velho como alma
sábio de que nunca é perdido
aquilo que se tem chave
o quarto murmura as pedras do caminho
em que saltita dourada dorothy

deveras
Melancolia não cabe em palavra
nem Amor