quarta-feira, junho 27, 2007

Tanto vaguei pelo deserto
seca e sem asas
cega de areia e sal.

Teu fim atravessou meu começo
e te perpetuo em verbo
infinito
oásis verde
sereno espelho
sutil inundação

sexta-feira, junho 22, 2007

Amor inteiro

Assisti a um filme: “O amor não tira férias”, com ninguém menos que (a tão simbólica para mim) Kate Winslet. A personagem não tinha os cabelos laranja, nem era mãe de uma menina de três anos em crise entre a maternidade e a feminilidade, não estava lendo Mme. Bovary (eu estou, agora), mas me revelou da mesma “coincidente” e abrupta forma.
Sua máscara desta vez era a de uma mulher apaixonada e que ocupava somente o espaço secundário na vida do homem que desejava - um clássico e familiar caso de amor platônico. O cara era tudo de bom, lindo, inteligente, carinhoso – perfeito! - e ela o esperava há um certo tempo, crente de que o que sentia se realizaria em algum momento, mas não foi o que aconteceu.
Provou-se que quem espera, sempre cansa. E ela, exausta, resolve fugir pra outro mundo, desta vez real. Escondida em outra cidade, conhece um velho roteirista (viva os oráculos modernos e o cinema que revela essas inquietudes diárias) que anuncia: nos filmes sempre há duas atrizes junto ao protagonista – a melhor amiga e a atriz principal – e você não serve pra o primeiro papel. A moça se dá conta (e eu com ela), de que o papel secundário não é para mulheres inteiras e intensas.
Tudo bem, a ressalva para o pacote conto-de-fadas-felizes-para-sempre, mas por que não concordar que colocar os pés no chão (mesmo que seja atirando-se em um abismo) provoca as melhores mudanças?
Queria mesmo que fosse diferente, mas não é. Amor platônico não se cura com trepadas homéricas (isso só o disfarça); amor platônico se cura com amor real, sem entreveros, com pedras (e não muros) no caminho. Amor platônico se cura com silêncio e um pouco de escuridão, com portas (e janelas de MSN) fechadas. Amor platônico se cura com Amor-próprio.
Amor que precisa ultrapassar o tempo, o espaço e a falta de reciprocidade só é bonitinho em romance romântico, em quadro de programa sensacionalista, em novela de televisão, nas telas do cinema (até porque é amor alheio). O difícil ou o impossível servem pra roteiro, mas não pra vida essa que nos faz chorar pelas nossas próprias dores.
O meu cupido pediu licença. Eu dei. Até os deuses merecem férias...

quinta-feira, junho 21, 2007

não há tempo de espera
é preciso parir o sol

o dia abraça com mãos de homens
não existem nuvens

um sopro arrebenta o silêncio
suspende o ar
engole o grito

a vida prenhe
a casa muda

o céu é laranja
e arde

segunda-feira, junho 18, 2007

um caso com as palavras
apaixonada é diminutivo
amor, substantivo próprio
teu predicado, minha oração

uma vida de advérbios
tudo sem nexo

incoerente tecido que me faz
sujeito elíptico

quinta-feira, junho 14, 2007

deserto

areia que se dissolve entre os dedos
e espalha-se redemoinho furioso
antes lama
agora lâmina
transparente corpo em que reflito
no espelho, a ampulheta

segunda-feira, junho 04, 2007

Azar...
O que fazer se é obscuro
o meu desejo
como você
arredio e secreto
entre chaves e cacos
se te quero assim objeto
espelho em que me miro
tua versão fraturada?

(Fito canta enquanto rasgo a palavra)