quarta-feira, dezembro 12, 2007

teu corpo o meu anoitece
sombras se completam
movem-se silêncios desnudos
escorregadio cetim
em agudo desintegrar-se
estrelas pipocam pelo espaço
num quarto de lua
a maré cheia

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Minha boca chama a sua
afobada pela falta de palavra
de ânsia, de água, de cigarro
deixa de ser lábios e linguagem
pra ser vorazmente nua
escrava voluntária da tua imagem.

Minha boca canta a sua
(como flautista de mágico musical)
Boca na boca, dedo por dedo
até o lá, agudo,
maior que a lua que nos cobre

Minha boca clama a sua
(vem depressa)
reclama domingo de sol em clave
em dia de chuva torrencial

segunda-feira, novembro 26, 2007

repletos de cosas
ritmo
batuque
afrogalego
saxsambeiro
preto-e-branco
botequeiro
disperso som
ondeia marinheiro
vão vão vão
sexyboleio
nós, primeiro
decorado
rima escrita
descoberta
(o sorriso fica)
inteiro
sol na escuridão

terça-feira, novembro 20, 2007

escorre pela parede um coisa pegajosa
que não é suor nem palpita
musgo que se cria sempre no escondido
no obscuro, no osceno
(porque há quem desconsidere o amor)
um cinzeiro cheio e mãos vazias
porque o ar é saudade

quarta-feira, novembro 14, 2007

devora minhas palavras
decora o meu corpo
sem decoro
sem demora
descola minha retina
me chama de cretina
desafora
desmente a minha rima
enquanto eu alucino
enquanto eu anuncio
toda prosa tua sina
você meu masculino
eu rio de menina

terça-feira, novembro 13, 2007

piso em você como quem pisa em ovos
como quem anda em brasas
porque o amor arde em falsas delicadezas
o amor explode como bolha
o amor pinça pelas asas
liberta
zumzuna agitado na vidraça
enquanto tudo venta na noite
esmago-o suavemente verme
alvo tecido que me habita quando sereno
casa caiada em que descansa o amor
e todos os pratos quebrados

terça-feira, outubro 30, 2007

a poesia me possuiu e estou prenhe
o que cresce cá dentro
é um mundo, é um monstro
as palavras que não quero parir
o fruto é bastardo e arregaça meus secretos
desnuda minhas entranhas
pra poder nascer, me mata

segunda-feira, outubro 29, 2007

meu suor impregnado de palavras
teu peito como mordaça
pra não precisar dizer

sábado, outubro 27, 2007

restos pela janela
as cordas do violão.
o cinzeiro vazio.
o sabonete.
meia garrafa de uísque barato.
a parede verde.
muitos pratos.
o beijo que protege a tela do computador.
o coração.
aquela escultura de arame.
o espelho com barba.
o bloco em branco.
o imã.
os elos sem dedos.
a escova de dentes - a azul.

sexta-feira, outubro 26, 2007

me seduz, me devora, me alicia
a palavra me toma
mãos dadas em portão na madrugada
rouba meus beijos, asfixia
quase alívio, até monotonia
a palavra me quer nua,
a palavra me faz sua
eterna namorada

quinta-feira, outubro 25, 2007

não se fere a intimidade de uma mulher
não se marcam a ferro suas entranhas
não se enfia uma adaga em seu sexo
só aquilo que é majestoso entra na casa
no seu corpo só há espaço para o sagrado
o pau não é mais um pau
é ouro, tesouro que ela mais que esconde, guarda
torna-o brinquedo e alimento
torna-o templo em que se deposita bendita
e se eterniza em lava e gozo.
ajoelha-te diante do perfeito divino
na tua boca age a língua ignota, babel
eleva-te para conhecer o espaço infinito
sê mais que homem, sê inteiro
profano, o corpo é só passagem

segunda-feira, outubro 22, 2007

em forma de coração
escreve em riscos de giz
mil voltas sem direção
giros em torno de si

nuvem de doce odor
do verde frasco escapam
é o cheiro do amor
embriagando os que passam

um guarda o gosto de fruta
outro o cheiro do mato
um, de madeira bruta
outro, de fino trato

surpresa, prenda mimosa
cheira a maracujá e caqui
mira o bailar do pião
o brinquedo do guri

domingo, outubro 21, 2007

Poema em 5

cintilante
brilho eterno brilho
de onde vem e para onde vai
a delicadeza de ser
eterno
instante permanente
respondo sim
imponho não
metamorficamente
sem fim
em ti, em mim
metafórica mente

(poema a cinco mãos: Bel, Rita, Kelvin, Bina e Clau)

sábado, outubro 20, 2007

a madrugada acorda
sobressaltada
susto
balançam os braços
caem suas folhas como água
lua não vê
a noite é uma venda
tudo frio
tudo seca
nem dói
as nuvens todas passam
longe
era só vento

quinta-feira, outubro 18, 2007

atravessou o espaço apinhado do bar,
encontrou pouso na cadeira ao lado da minha,
apossou-se dela e anunciou
- só com os olhos -
você é a próxima.

Continuei blasé,
a mais perfeita bêbada,
numa completa ignorância
de fato e de qualquer linguagem.

Ele continuou me olhando, um silêncio,
falando aquela língua que eu conhecia bem.
(Ou seria ela quem conhecia bem cada centímetro de pele do meu corpo?).

Eu sorria com mil dentes para o outro,
o direito, que tocava minha perna quando ria.
Tentava esconder o desespero de me saber abatida
pelos (ah, malditos!) olhos castanhos do avesso.

Eu sabia de todas as suas certezas.
Eu duvidava do tempo que sustentaria o beijo guardado.
Os seus dentes longe do meu pescoço...

Ele então disse vem.
Levantou-se:
um obelisco
um monumento
um falo.

Era mais que um homem.
Era o homem a quem eu pertencia.

O nome escrito nas minhas entranhas sussurrava imoralidades.
O uivo contido premente no ar fumacento e ébrio.

Eu fui.

quinta-feira, outubro 11, 2007

se eu fosse bicho
te unhava, arrancava um pedaço
ou então te devorava
te enredava na minha teia
me enrolava no teu corpo e sufocava
se eu fosse bicho, nem falava
só olhava armando bote
atacava
tempo de respirar?
não dava.
tavas morto se não visse
que tinha bem do teu lado
um poderoso bicho

quarta-feira, outubro 10, 2007

Faço estes versos roucos
Pra ver se me escutas
De ouro só tenho a palavra
A minha força mais bruta
Io te voglio tanto bene
Quero que se rendas
I love you, mi amor
Quero que entendas
Mein liebe, je t’aime beaucoup
Quero enredar nossas línguas
Pra que se convenças
AMOR se traduz EU e TU

terça-feira, outubro 09, 2007

sentimento trancado à chave
o estômago digere o sal
antes de virar pranto
no meu espanto, um silêncio rouco
nenhum sopro, só neblina
a menina de dentro
sublima o desejo e espera
balança as pernas
voa devagar enquanto respira
voam as roupas no varal
o tempo pode ser remédio
pra quem tem sorte

segunda-feira, outubro 08, 2007

meu corpo, teu brinquedo
objeto preferido
teu tesouro secreto
um oásis escondido
no mais quente deserto

meu corpo, teu recanto
em mim constróis muralhas
grava-te em milagre e espanto
te escreves anjo e canalha
No aguaçal do meu pranto

meu corpo, teu espaço
território das tuas ávidas mãos
rosas-dos-ventos dos meus passos
enloquece-me feito furacão
no redemoinho do teu abraço

quinta-feira, agosto 30, 2007

tudo sempre morre
o que resta é saudade
depois suave impressão
pinceladas foscas no vazio
colorindo nada

tudo sempre nasce
até onde há sal
e deserto

terça-feira, agosto 28, 2007

Não tenho medo da morte
Não durmo de luz apagada
Não acredito na sorte
Não pago conta atrasada
Não sei pra que lado é o norte
Não gosto da minha risada
Não pratico nenhum esporte
Não sei contar piada

Não sei aquilo que quero
Mas sei aquilo que sou

Os meus “nãos” todos de cor
Conheci as linhas das mãos
Gravei palavras no corpo
E algumas constelações
Beijei tantas bocas erradas
Dormi muitas horas a menos
Bebi tantos goles a mais
Dancei como enluarada
Escrevi tudo sobre mim
Li menos do que queria
Atravessei areias quentes
Amei de todas as formas
Cantei, nadei, morri

Não sei aquilo que quero
Tampouco aquilo que sou

Rio porque tudo é corrente
E eu sempre vôo

quinta-feira, julho 12, 2007

sorriso de risco no trapo
olhos cruzados
dedos também

os braços largados
esperam o abraço
que não vem.

repleto de pena
boneco sem cria
para amar
ninguém


(publicado originalmente no Tempestade Mental, do meu querido amigo Marcus Cesário)

quarta-feira, julho 11, 2007

você só há na escuridão
se abro os olhos
revela-se monstro
lírica assombração

a presente no espelho é o igual avesso
o sempre é o que resiste ao pó
e existe

quarta-feira, junho 27, 2007

Tanto vaguei pelo deserto
seca e sem asas
cega de areia e sal.

Teu fim atravessou meu começo
e te perpetuo em verbo
infinito
oásis verde
sereno espelho
sutil inundação

sexta-feira, junho 22, 2007

Amor inteiro

Assisti a um filme: “O amor não tira férias”, com ninguém menos que (a tão simbólica para mim) Kate Winslet. A personagem não tinha os cabelos laranja, nem era mãe de uma menina de três anos em crise entre a maternidade e a feminilidade, não estava lendo Mme. Bovary (eu estou, agora), mas me revelou da mesma “coincidente” e abrupta forma.
Sua máscara desta vez era a de uma mulher apaixonada e que ocupava somente o espaço secundário na vida do homem que desejava - um clássico e familiar caso de amor platônico. O cara era tudo de bom, lindo, inteligente, carinhoso – perfeito! - e ela o esperava há um certo tempo, crente de que o que sentia se realizaria em algum momento, mas não foi o que aconteceu.
Provou-se que quem espera, sempre cansa. E ela, exausta, resolve fugir pra outro mundo, desta vez real. Escondida em outra cidade, conhece um velho roteirista (viva os oráculos modernos e o cinema que revela essas inquietudes diárias) que anuncia: nos filmes sempre há duas atrizes junto ao protagonista – a melhor amiga e a atriz principal – e você não serve pra o primeiro papel. A moça se dá conta (e eu com ela), de que o papel secundário não é para mulheres inteiras e intensas.
Tudo bem, a ressalva para o pacote conto-de-fadas-felizes-para-sempre, mas por que não concordar que colocar os pés no chão (mesmo que seja atirando-se em um abismo) provoca as melhores mudanças?
Queria mesmo que fosse diferente, mas não é. Amor platônico não se cura com trepadas homéricas (isso só o disfarça); amor platônico se cura com amor real, sem entreveros, com pedras (e não muros) no caminho. Amor platônico se cura com silêncio e um pouco de escuridão, com portas (e janelas de MSN) fechadas. Amor platônico se cura com Amor-próprio.
Amor que precisa ultrapassar o tempo, o espaço e a falta de reciprocidade só é bonitinho em romance romântico, em quadro de programa sensacionalista, em novela de televisão, nas telas do cinema (até porque é amor alheio). O difícil ou o impossível servem pra roteiro, mas não pra vida essa que nos faz chorar pelas nossas próprias dores.
O meu cupido pediu licença. Eu dei. Até os deuses merecem férias...

quinta-feira, junho 21, 2007

não há tempo de espera
é preciso parir o sol

o dia abraça com mãos de homens
não existem nuvens

um sopro arrebenta o silêncio
suspende o ar
engole o grito

a vida prenhe
a casa muda

o céu é laranja
e arde

segunda-feira, junho 18, 2007

um caso com as palavras
apaixonada é diminutivo
amor, substantivo próprio
teu predicado, minha oração

uma vida de advérbios
tudo sem nexo

incoerente tecido que me faz
sujeito elíptico

quinta-feira, junho 14, 2007

deserto

areia que se dissolve entre os dedos
e espalha-se redemoinho furioso
antes lama
agora lâmina
transparente corpo em que reflito
no espelho, a ampulheta

segunda-feira, junho 04, 2007

Azar...
O que fazer se é obscuro
o meu desejo
como você
arredio e secreto
entre chaves e cacos
se te quero assim objeto
espelho em que me miro
tua versão fraturada?

(Fito canta enquanto rasgo a palavra)

quarta-feira, maio 30, 2007

Pousada sobre um galho,
ela observa seu íntimo abismo.

O sol bronzeia as cobertas no varal.
A maçã mordida descansa a seus pés.

Bárbaro, o bom-dia atravessa o caos
e provoca o tempo, sem anos.
Figuras caribenhas revelam seu sexo.

Cheiro de mato e romã.

domingo, maio 27, 2007

Tá pensando que é só bunda, gritei,
quando a tirei do caminho
daquele ousado beliscão.

- Prestenção, não é não!
Porque corpo é bom,
mas cérebro dá mais tesão.

Se quiser comer a carne
Vai ter que, primeiro,
amassar pão.

domingo, maio 13, 2007

é sempre a mesma gota
a igual adaga que fere
o tal veneno
que matam de forma idêntica
mil vezes singular

quinta-feira, maio 10, 2007

nos teus olhos azuis impossíveis
nos teus verdes de loucura
eu me perco
desafino
num sem ritmo
desatino
em madrugada e mentiras
sempre baile
sempre sina

o que importa
se é só corpo ou poesia
sou cretina
sou devassa

abisma

quarta-feira, maio 02, 2007

grandes são os Desertos
profundos os Abismos
sinônimos sinais
infinitos
olhos imensos e escuros guardam
todas as minhas dúvidas em suas certezas

travessia.

terça-feira, abril 24, 2007

Armadura
duríssima casca
madrepérola
máscara
imaculada

se não fosse câncer
seria certamente virgem
sua concha

quinta-feira, março 29, 2007

e eu que procurava por ti tão longe
te encontro de repente
correndo em cachos
espalhando guizos e gritos
colorindo a casa de calcinhas
é teu riso que me faz palavra
são teus olhos que me trazem sonho
no meu colo, quando adormeces,
embalo-me em cantos que não sei dizer
teu pranto, o primeiro e todos os outros,
me acordam praquilo que chamam de paraíso.

Filha, poesia, quem és tu?
como cresceste fora de mim enquanto eu nem via?

meu susto, meu quinhão do mais puro espanto
minha sempre espera por reconhecer-me
minha sempre alegria de reconhecer-te
criação

quarta-feira, março 28, 2007

Quando penso em minha filha, em algo que a descreva, sempre penso em música ou em poesia... Parte de seu nome chegou por causa de uma letra do Tom: “vem cá, Luísa, me dá tua mão (...) Vem me dar um beijo. E um raio de sol nos teus cabelos - como um brilhante que partindo a luz explode em sete cores, revelando então os sete mil amores, que eu guardei somente pra te dar, Luísa”. Quando ela crescia dentro de mim, eu nos ninava cantando: “você é assim, é tudo pra mim, e quando não te vejo, só penso em você, desde o amanhecer até quando eu me deito”. Quando nos vimos pela primeira vez, chorando as duas: “Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você”.

Nosso repertório aumenta a cada dia: ela me ensinou a ser criança novamente, a subir e descer com a dona Aranha, a rebolar até o chão com a esquecida Xuxa da minha infância, a voar com a borboletinha... A Maria Luísa, minha Maluquete, me prova todo dia que não é preciso esperar menos do que a perfeição, que eu encontro nos seu riso frouxo, nos seus cachos bagunçados, no ressonar dos seus sonhos. Ela é minha luz. É quem me embala numa canção sempre doce e eu agradeço por tudo o que ela me mostra enquanto cresce (tal princesa das histórias que lemos) em virtude, beleza e inteligência.

Minha bela agora dorme enquanto escrevo e eu choro manso tomada de um amor sem tamanho.

“Ela é minha menina e eu sou a menina dela" ...

********************
(recebi um bilhete da escolinha pedindo que escrevesse um depoimento pra Malu, que vai fazer parte de um álbum do Maternal. Este é o depoimento. E eu que procurava a poesia fora de mim...)

domingo, março 25, 2007

Quando passa a tempestade
A calmaria dos longos abraços
Sete cores, vivas cores
Brisa morna, bom mormaço

A maresia, sal
Amar é sina, mal
A maré, a maré
Amar é bom, Amar é tão
Amar quente e fundo
Há mar dentro da gente

segunda-feira, março 12, 2007

Ai, quanta pretensão
Acreditar que poderia
Seqüestrar meu coração


Mas tenho passos largos
Fugi, mesmo carente
Guardei-me em meus armários,
Protegida de seus dentes
No escuro às vezes sinto
As grades de suas garras
E os gostos dos seus ais

Mas agora tanto faz
No silêncio do meu peito
Já morreram os lamentos
Não há cantos, nem há fadas
Nem você existe mais

Mas agora tanto faz
Eu vôo sobre o abismo
Mesmo de asas cortadas
Nova, Fênix, eu renasço
No carinho de outros braços

(pra ser musicada... que tal um samba ou um samba-rock?)

sexta-feira, março 09, 2007

mãos atadas nas costas
feridas em meu peito
pés frios e descalços
os olhos gritam por socorro
na escuridão
você pica em pedaços meu gozo
castrador dos meus prazeres
engulo o grito
apaixonada pelo carrasco
Estolcolmo é dentro de mim

quarta-feira, março 07, 2007

Um biscuit me olha atravessado.

Em sua estante, abandonado,
cobra pelo dono que partiu.

Tudo nele é cinza:
os cabelos outrora anelados,
a pele alva,
os pés gorduchos de arcanjo.

Somos os dois.
Ele e eu só.

A mão esbarra estabanada.

Cupido agora é pó.

domingo, março 04, 2007

From hell

já cortei com espelhos os pulsos
já me atropelaram jamantas
eu me afoguei em águas escuras
eu mastiguei balas de prata
sempre perdi a cabeça
voei pra dentro do abismo
bebi do melhor veneno
dormi eterno o meu sono
mas o Inferno só descobri
quando por ti morri de Amor

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

as portas de dentro estão abertas
partícula de pó dançam

quem de nós perdeu as chaves?
quem descobriu o silêncio?
quem velou o defunto?
quem soprou a chama?
qual de nós?

qual dará nós quando quebrarmos os vidros?

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

entre as pernas
a rachadura
os pés bambos
como a corda

dó e lá

acorde

pra quebrar o gelo

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

sou oceano - pacífico
não indico, fluo
toda a maré
tranformar-se em vapor
todo o sal
tornar-se mormaço
quente e incômodo
que antecede os temporais

tudo é tremor e alguma luz
depois resta a espera
susto de trovão na inundação

segunda-feira, janeiro 22, 2007

o primeiro prepararia a terra
para torná-la madura
esqueceu-a marcada de dentes

o segundo plantaria os beijos
de cor roxa, branca e amarela
deixou-me só o silêncio

o terceiro colheria as flores
trouxe nas mãos os gafanhotos
devoraram meu jardim

Este chegou sem promessas
arou a terra, enterrou as sementes
brotam amores-perfeitos em botão

domingo, janeiro 21, 2007

este vão em que me abismo
tão profundo, impreciso
vão desejo, em que encontro
no teu beijo, o perigo
em teus braços, o amigo

O silêncio ancestral
que precede nossos laços
avisam que que teu riso
é meu abrigo, este vão

quinta-feira, janeiro 18, 2007

meu ouvido descansa em teu peito
onde mergulho e adormeço
vôo rio abaixo, pra dentro
nos redemoinhos dos teus pêlos

me dá mais vento
nas notas do teu violão
me dá mais tempo
na letra da tua canção

meus olhos se perdem nos traços
que guardam todas as cores
vou água abaixo, pra dentro
embarco nos teus pensamentos

me dá o abismo
que eu vôo em teus braços
me dá o caminho
que eu sigo teus passos

meu olvido se afoga nos beijos
que roubam pedaços de mim
vou água abaixo, pra dentro
abro as portas dos teus segredos

domingo, janeiro 07, 2007

ela tem cabelos vermelhos
e lágrimas imensamente blues.
habita nela o dilúvio que atormenta os homens.
um mar bravio e sensível em que se afoga
quando tudo parece sereno

ela tem olhos grandes
e noites escuras com estrelas.
escondem-se nelas os medos da infância.
uma caixa de palavras em que se escreve
quando só o que há é silêncio.

ela tem sorrisos de mil dentes
e lantejoulas laranjas no vestido.
revela-se nela a lucidez dos loucos.
um copo de vinho em que se atormenta
quando nada é o sentido.

ela tem mãos de dedos infinitos
e cristais que machucam o olvido.
rasgam-se nela os desejos dos bêbados.
um leito diáfano e profundo
quando tudo mais foi esquecido.

ela tem chagas no peito
e luas que se tornam cheias num segundo.
adormecem nela os segredos dos amantes.
um poema profano e pudico
quando todo sonho foi perdido.

mas o que ela não tem
é que a tornam o abismo.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Não é do eco de sua voz que ela tem medo no fundo do poço; é do silêncio das suas verdades. Lá, no escuro, a água nunca é parada.

Olha. Há limo... e é verde.

terça-feira, janeiro 02, 2007

no translúcido cristal
a órbita caótica dos planetas
criava ondas no resto de veneno
bebi o que havia no copo
(para descobrir seus segredos)
sorvi com doçura o gosto
ácido de sorriso e dor
afoguei-me no seu obscuro
e preenchi-me das palavras
e dos seus sem-sentidos
um sol me olhava pelas costas
e minha lua tornava-se cheia
é possível traçar o mapa
se há tantos ventos na rosa?