quinta-feira, março 29, 2007

e eu que procurava por ti tão longe
te encontro de repente
correndo em cachos
espalhando guizos e gritos
colorindo a casa de calcinhas
é teu riso que me faz palavra
são teus olhos que me trazem sonho
no meu colo, quando adormeces,
embalo-me em cantos que não sei dizer
teu pranto, o primeiro e todos os outros,
me acordam praquilo que chamam de paraíso.

Filha, poesia, quem és tu?
como cresceste fora de mim enquanto eu nem via?

meu susto, meu quinhão do mais puro espanto
minha sempre espera por reconhecer-me
minha sempre alegria de reconhecer-te
criação

quarta-feira, março 28, 2007

Quando penso em minha filha, em algo que a descreva, sempre penso em música ou em poesia... Parte de seu nome chegou por causa de uma letra do Tom: “vem cá, Luísa, me dá tua mão (...) Vem me dar um beijo. E um raio de sol nos teus cabelos - como um brilhante que partindo a luz explode em sete cores, revelando então os sete mil amores, que eu guardei somente pra te dar, Luísa”. Quando ela crescia dentro de mim, eu nos ninava cantando: “você é assim, é tudo pra mim, e quando não te vejo, só penso em você, desde o amanhecer até quando eu me deito”. Quando nos vimos pela primeira vez, chorando as duas: “Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você”.

Nosso repertório aumenta a cada dia: ela me ensinou a ser criança novamente, a subir e descer com a dona Aranha, a rebolar até o chão com a esquecida Xuxa da minha infância, a voar com a borboletinha... A Maria Luísa, minha Maluquete, me prova todo dia que não é preciso esperar menos do que a perfeição, que eu encontro nos seu riso frouxo, nos seus cachos bagunçados, no ressonar dos seus sonhos. Ela é minha luz. É quem me embala numa canção sempre doce e eu agradeço por tudo o que ela me mostra enquanto cresce (tal princesa das histórias que lemos) em virtude, beleza e inteligência.

Minha bela agora dorme enquanto escrevo e eu choro manso tomada de um amor sem tamanho.

“Ela é minha menina e eu sou a menina dela" ...

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(recebi um bilhete da escolinha pedindo que escrevesse um depoimento pra Malu, que vai fazer parte de um álbum do Maternal. Este é o depoimento. E eu que procurava a poesia fora de mim...)

domingo, março 25, 2007

Quando passa a tempestade
A calmaria dos longos abraços
Sete cores, vivas cores
Brisa morna, bom mormaço

A maresia, sal
Amar é sina, mal
A maré, a maré
Amar é bom, Amar é tão
Amar quente e fundo
Há mar dentro da gente

segunda-feira, março 12, 2007

Ai, quanta pretensão
Acreditar que poderia
Seqüestrar meu coração


Mas tenho passos largos
Fugi, mesmo carente
Guardei-me em meus armários,
Protegida de seus dentes
No escuro às vezes sinto
As grades de suas garras
E os gostos dos seus ais

Mas agora tanto faz
No silêncio do meu peito
Já morreram os lamentos
Não há cantos, nem há fadas
Nem você existe mais

Mas agora tanto faz
Eu vôo sobre o abismo
Mesmo de asas cortadas
Nova, Fênix, eu renasço
No carinho de outros braços

(pra ser musicada... que tal um samba ou um samba-rock?)

sexta-feira, março 09, 2007

mãos atadas nas costas
feridas em meu peito
pés frios e descalços
os olhos gritam por socorro
na escuridão
você pica em pedaços meu gozo
castrador dos meus prazeres
engulo o grito
apaixonada pelo carrasco
Estolcolmo é dentro de mim

quarta-feira, março 07, 2007

Um biscuit me olha atravessado.

Em sua estante, abandonado,
cobra pelo dono que partiu.

Tudo nele é cinza:
os cabelos outrora anelados,
a pele alva,
os pés gorduchos de arcanjo.

Somos os dois.
Ele e eu só.

A mão esbarra estabanada.

Cupido agora é pó.

domingo, março 04, 2007

From hell

já cortei com espelhos os pulsos
já me atropelaram jamantas
eu me afoguei em águas escuras
eu mastiguei balas de prata
sempre perdi a cabeça
voei pra dentro do abismo
bebi do melhor veneno
dormi eterno o meu sono
mas o Inferno só descobri
quando por ti morri de Amor