segunda-feira, dezembro 31, 2012


que tengas manos largas para tomar los caminos
que tengas ojos tontos de mirar la memoria
que tengas palabras bañadas por las montañas
que seas montaña
que puedas acordarte de creer como moverlas
que seas los pies del otro
que seas la historia del otro
que seas también dignidad

y que traiga suerte la risa que guardé en tu oído,
la fuerza que puse en este abrazo

y  que tengas dudas para que jamás te escape tu verdad



quinta-feira, dezembro 27, 2012

fui parida para os dias frios
gestos dramáticos em notas de bolero
um vinho bom
vermelha é também a ideia
como o teu sangue 
fervendo palavras na minha boca

quarta-feira, novembro 28, 2012

sou só descaso
gosto de longos silêncios
música me enternece
beijo porque é bom
coleciono abismos
de mim é que tenho medo

quero os copos quebrados
algumas madrugadas
o braço sobre o corpo cansado
mansidão

sem laço que prenda a palavra
sem caixa que cale a canção

segunda-feira, novembro 19, 2012

por anos
perdi-me no ruído dos meus passos
na curva do meu umbigo
roía as unhas todas
enquanto ruíam os castelos
e as cartas que nunca mandei
das quais nunca li as respostas

então tuas mãos
e os olhos perderam a razão

noite é tudo
no sobre há sempre estrelas


domingo, novembro 18, 2012



naquela caixa eu guardei o tempo
um guardanapo amarrotado
algumas dores
a imagem de santa
meu sertão
todos os outros
passos

sem espaço para o contrário
lotei de luto as certezas
silêncio para respirar

tonta de engano
escrevo o teu nome
(palavrabraço)

poesia é só memória





sábado, novembro 17, 2012

não tenho medo dos teus olhos pueris
nem do teu corpo lasso
não tenho medo da falta

fujo é das janelas que abres
sol que se estilhaça minha nudez





domingo, novembro 11, 2012

o corpo pede mais sede
porque a vontade é rouca
como último gemido
o corpo entoa rituais
evoca palavras em fúria
germina silêncios ancestrais
o corpo é instrumento
é página
o corpo é memória
e tem fome
respira
desprende-se blues
o corpo é caos
cúmplice diante do secreto
abre os olhos e se faz cristal
o corpo é espelho
é esfinge
é dois
é bom




domingo, outubro 07, 2012

Destranquei o bolero
e as palavras furiosas
libertei o corpo e a sede
dancei porque ainda havia ar

Anoiteci

Serenidade é saber que todo dia é fim


sábado, setembro 08, 2012

Ando tão cansada de mim (imimi) que sou capaz até de ser prosa.

sexta-feira, setembro 07, 2012

tentei te esquecer
escrevi sobre os objetos da casa
mas ainda havia o teu cigarro no cinzeiro
os pelos do teu peito no chão do chuveiro
olhei pro sol e ele tinha o gosto do teu suor
o sabiá insistia em te despertar na árvore em frente
(era a cotovia?)
o risco no bloco de anotações
as pedras da calçada da minha rua
a garrafa, o mapa, a canção
em tudo havia tua mão gentil

Descobri então a retroescavadeira
indolor em sua força
insensível à minha dor clichê
delicada garra febril
deliciosa máquina
cavou em minha poesia o vazio
e te arrancou do meu peito fértil


sábado, agosto 25, 2012

Enquanto você não vem
eu arrumo os caminhos
desenho flores nas paredes da casa vazia
e beijo-as
guardo as palavras insensatas nas caixas verdes
Não derramo lágrima
(que já chove sobre a árvore da frente)
Não sofro a falta

espera é uma madrugada quente em agosto

segunda-feira, agosto 20, 2012


eu te direi não
construirei edifício sólido
onde viverei longe dos teu lábios
do teu cheiro de palavra e mar
do teu gosto de abismo

Homem
eu direi não aos teus olhos tristes
ao teu canto de ordem
aos pássaros dos teus cabelos negros
e serei forte ao teu abraço

eu digo não
nem medo mais tenho

quarta-feira, agosto 15, 2012


beijo teus caminhos com ares de senhorita
serpenteio os cabelos de ideias roucas
bebo tua boca porque tenho sede
(dentro é deserto)
te canto histórias de morrer insônia
e me fazes a mulher dos abraços
e te fazes cego
enquanto tudo é engano

Amor sem medo é altura





segunda-feira, agosto 13, 2012

nem teus olhos febris
a pedra no meio da estrada
os ais de um gozo farto
a tua pele salgada
as pequenas promessas
um canto de madrugada
as minhas pernas abertas
a porta escancarada
estas palavras
aquela que foi calada


eu tenho as cicatrizes
de todas as putas guardadas
eu tenho a chave da caixa
há muito tempo trancada
eu sangro a veia que pulsa
escrevo a tua chaga
eu amo teu corpo cansado
eu beijo a tua boca molhada
porque eu não valho nada


quinta-feira, agosto 09, 2012

Do estômago brotaram as palavras de todas as cores
trancadas a chave e arrependimentos

O que ela sabia é que tinha pouco
as cartas de Frida
um beijo ébrio numa tarde qualquer
um resto de ar

Abriu a mala onde guardava as verdades
lá dentro escondeu o Amor





terça-feira, agosto 07, 2012

Olhava para o relógio desmontado cuidadosamente
as  engrenagens como peças de quebra-cabeça
molas adormecidas abraçadas aos ponteiros
Nada, ali, corria implacável
gritando que já era tarde

Era a primeira vez que não entendia
que os olhos é que guardavam o tempo
perdido 

Que nunca é hora, menina
e sempre é



quarta-feira, julho 25, 2012

Se eu pudesse te guardava aqui
te dava refúgio enquanto te fazia meu suor
(re)velava tua respiração de homem tonto de vida e dor
te enchia de amanheceres
escrevia amor no teu corpo
mas só o que me resta é esta pintura
e esta voz
cortando com boleros a felicidade


segunda-feira, julho 23, 2012

Era pra eu ter ficado quieta
Era pra eu ter ficado lúcida
Era pra eu ter ficado todas as outras

Acontece que só o que me ensinaram foi a prender botões
a bordar em cruz e cores
a fingir que as mãos sob as coxas cobertas bastariam pra me fazer mais doce
(e eu nem acredito em pernas cruzadas)

Era pra eu ter ficado dia
mas havia a tua boca a profanar as minhas escrituras

domingo, julho 22, 2012

Que tudo baste por aquilo que tem de silêncio
Beijo a sua boca com calma e delícia
pra calar melhor

quarta-feira, julho 18, 2012

Nunca te contei, mas sempre fui boa em encontrar esconderijos
guardei ontem mesmo uma menina estúpida em mim
tola de repetido único amor

A primeira vez que calei foi por susto
silenciar é fugir depressa pra dentro de um armário quente
Noite é escura
Eu sou mais

Nunca te contei, mas eu minto bem
(embora nunca o faça)

Sempre que há queda
Estilhaço




terça-feira, julho 17, 2012

verdade
eu gosto da fatalidade
nem comida leve
nem bocas sem beijo
abismo
felicidade breve
no drama das palavras vulgares

a volúpia me cai como vestido de noiva
e gozo







domingo, julho 15, 2012

Tinha olhos surpresos
e traços que contavam mais sobre si do que as palavras que não dizia

Era um homem
Era a noite

Até temer
ela nem lembrava que ainda tinha dentes
Chega uma hora em que olha no espelho e não encontra mais o avesso
a cara é só retrato 3x4 da sua identidade emaranhada
o que há por trás é a casa escura soando berros de alguma canção inominável
Memória tem cheiro de flor em velório
doce cozinhando em panela de vó

Se ainda acreditasse, abriria as cortinas
chorava rios e fingia ser feliz

Nem pra chover deus ajuda



segunda-feira, julho 09, 2012

eu saberia atravessar silêncios absurdos
digerir as mãos ausentes sobre o corpo morno
o poucamor que o tempo faz calmaria
eu poderia fingir o grito
eu poderia conter a falta
controlar

mas você vem com as palavras inesperadas
cantando as histórias de milanos
apaga o mapa
embaça a vida
risca na parede do quarto os dias

esquece

Eu queria dizer que eu tenho medo.

então abre os olhos de felicidade verde
suspiro
é sempre noite

*

segunda-feira, junho 04, 2012

Vem como amigo de infância, íntimo,  para sentar-se na varanda da casa da memória. Traz a fome e a voz como se oferecesse mais um mate. Ela nem sabe ainda se é tempo, mas escuta a prosa longa sobre os dias e a árvore genealógica que data do século quatro. Ele sorri e pronuncia palavras como cantigas de ninar esquecidas. Ela suga o sumo da surpresa. A vida pode ser meio doce, suave. Rotina é um aborrecimento delicioso. Seco o vinho, sorve a lágrima com espirotromba enquanto escreve mais um dia.
 
  

terça-feira, março 27, 2012

carrego os minutos todos de antes
pequenos riscos nos cantos dos olhos
a noite sempre tem alguma estrela que insiste em cair
fazendo promessas que não serão cumpridas


é sempre tudo de novo aqui

preocupo-me em fazer dormir a madugada
em fazer nascer uma manhã
passos das meninas
os risos gorjeando o dia

*    *        *
  *  *     *
        *

domingo, março 25, 2012

eu tenho tantas máscaras
(quase escondo o meu rosto rubro)
se finjo de estátua sem membros
é porque o que me falta é a coragem de ter olhos

e a verdade é que em todos os copos
em todos os corpos
eu sangro lentamente
estrela ausente de uma madrugada estéril
bêbada de mormaço dos dias quentes
de um cais febril

*

sexta-feira, março 16, 2012

Os pés passam
         ligeiros
             curtos
               apressados
na rasteira do dia
vento de Bandeira
que varre as folhas
e os meus cabelos tintos

Sem relógio
saudade faz poesia numa taça de café

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

E vem de novo a vida
pombagirando desembestada
velozvorazvermelhaventando


as vozes confusas
vadias de carnaval e medo
lambem os pés ariscos

varrida a via suja
o que sobrevivive
é risco

terça-feira, fevereiro 21, 2012

Um redemoinho de palavras enlaçou os livros esquecidos

Não declararam amor
tampouco pediram perdão pela falta de gestos

Eram chuva forte sobre os papéis antigos
sobre os rostos
sobre as mãos tatuadas no último abraço
sobre nós desfazendo o presente

Perdia-se o tempo nas dívidas
(mágoas divisando o antes e o que restou)
perdia-se na bijouteria colorida e falsa

Mas os olhos teimosos guardaram o perfume da flor
enquanto nascia de novo a Poesia

*

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

vem redemoinho, pai
vento de temporal
tempo cheio de dedos
vai levar toda certeza
maldizer dos sonhos meus

eu aqui na menineza
tenho medo de rodar
nas ondas fartas de mar
virar cantiga, paizinho
pra brincar melhor a vida

sexta-feira, janeiro 13, 2012

tudo previsível como uma penteadeira

beijos gastaram todo o batom
mas restou o sangue
volúpia ardente na página daquele livro
respiro o teu perfume
quando a noite insiste em se fazer inteira
diante do espelho
tudo é nu

(gavetas também não escolhem as lembranças)

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Você estava tão perto
eu era capaz de adivinhar-lhe o peito
o cheiro de café e pó nas dobras da camisa
o redemoninho moreno, suas ideias

Você estava tão perto
que bastaria um gesto pra desfazer a ruína e o nó
um vento urbano suspirando na nuca
as palavras que me nego a repetir

Onde você esteve esse antes todo?
Se não era somente dentro de mim?
sigo as tuas palavras
segui teus passos
ainda susto
minha respiração

dilúvio das não-respostas
daquilo que nos foi roubado

como o sonho infantil de dia de Natal
como o verso do livro da cabeceira
como a flor
devorando meus olhos tristes

terça-feira, janeiro 03, 2012

Foi quando fomos jovens que abrimos portas
e dentro delas paredes de espelhos
tornaram infinitos nossos desejos?

 *