sábado, setembro 30, 2006

já conheço seus truques
o embaixo da capa
você do avesso
em todas as direções
adivinho seus passos
suas letras, suas cartas
(todas ridículas)
seu abracadabra

descubro seu rastro
e te abro, bagagem,
e guardo o que é meu
pra que seja também

depois é só viagem.

sexta-feira, setembro 29, 2006

Ele me encontrou assim:
trapo do que fui,
no meio da cesta.

Cuidadosamente, perfurou o tecido
e amarrou o nó
(por dentro, onde é secreto)
para não perder o fio da meada.

Enquanto costura aquilo que é roto,
me faz festa, me faz fantasia.

Depois cobre de brilho o seu corpo
mesmo quando é sempre dia.

segunda-feira, setembro 18, 2006

não sei se sou amante
só sei que gosto
agora e antes
só sei que gosto
nesse instante

quer que eu cante?
à beira do abismo
as asas abertas
e ainda há quem grite:
- não se precipite!

domingo, setembro 17, 2006

ainda há um resto de sal
partículas de temporal
e lábios sedentos
e beijos não dados
e mãos apertadas em oração

pelo chão, palavras cortadas
misturas às notas cansadas daquela canção

há o copo vazio
há os cacos de um corpo

ecos velados nas vozes de adeus

terça-feira, setembro 12, 2006

Vê essa parede?

nela há vida
flores roxas e brancas
há frente
atrás
há tijolos laranja
cimento e gente
há sentimento
muitas mãos, suor
há espelhos encobertos
janelas imaginadas
há sol e chuva
borboletas encantadas

Ainda vê essa parede?
devia ser a mulher da sua vida
que seus olhos não cansam de olhar
ser meu nome a palavra preferida
o corpo em que quer sempre repousar

devia ser o inferno e a morada
desejo sussurrado em seu ouvido
ser minha pele sua amante desejada
antes e depois de adormecido

e quando eu puder, enfim, perceber
que o amor é que precisa de agora
talvez possa definir o querer

de ficar viva em ti ou de ir embora
por que tudo em mim é sempre você
ainda que somente em minha memória

quinta-feira, setembro 07, 2006

tonteei-te tateando tatame
todo tonto todo toureiro
rolamos roídos ralando roupas
caímos colados comendo cabelos
delícia demente dormente deitada
suspiros sentidos suados sonhamos
uivava urgente um único urro
juntando joelhos janelas jardins
zipados zoamos zonzos zelosos
gatunos gritamos grudados gozando
viagem vazia vai vento vai vela
boca baton bunda beijada
pelados perdidos pedimos pecados
muita malicia mordemos maçã
quando queremos quanta quadrilha

(Poema a 4 mãos: Caio Martinez e Rita Cavalcante)