sábado, maio 13, 2023

(porque eu leio cris lisboa)

lembra de onde te dói quando faz escuro e ninguém enxerga

e de quanto um abraço aquieta tuas angústias

e uma palavra boba te faz gargalhar por dias sozinha

anota e guarda no bolso onde fica o dinheiro, pra ser surpreendida no meio da correria

descansa também 

conforta os teus fantasmas, teus mais velhos conhecidos

a essa altura tu já sabe que ressentimento sempre passa

(conhecimento barato comprado numa prateleira de supermercado)

coloca uma saia que rode enquanto tu dança 

tu ainda dança 

e que tudo ainda gira sem controle, mesmo que tu não goste dessa ideia

envelhecer é deixar ir

(tu nunca usou relógio de pulso porque tinha sempre pressa: tu ainda lembra?)

está esfriando: volte a tomar chá antes de dormir.


segunda-feira, maio 01, 2023

no teu desenho meus pés em ponta pisam a beira do precipício. é nietzsche, tu explica diante do meu susto. (quando eu era criança morava no décimo quinto andar e sentava na mureta da sacada balançando as pernas). tua voz cansada se espalha pelas minhas costas nuas enquanto repetem a imagem roubada: é preciso ter asas quando se ama o Abismo. rimos de bobos. e escondo meu rosto em teu abraço para sobreviver em terra firme.

fim.

no sonho o cativeiro queima
o pavor espremido sobre a vidraça
denuncia desejos estúpidos
agora tudo
chama
risco
mostra

permaneço até ser só labareda?
escancaro a porta para o estranho entrar?