sexta-feira, dezembro 16, 2005

o que eu faço
pra arrancá-lo de mim
qual erva-daninha
se insiste em florescer
e se fazer jardim?

agora me diz
como se esquece a primavera?

sábado, outubro 22, 2005

Poema de namorada

a gata misteriante
escorrega sublime
pela basculante
ronrona-se

plenamente
Morgana
dor-me

domingo, outubro 16, 2005

Poeminhas de domingo de chuva

I.

Minha roda é movida pelas paixões
Das mais rasteiras às mais nobres
Se é que existe majestade na perdição
Tudo é intenso e insensato
Extremo somente para ser extremo
O desejo me leva para onde quer
Ele é meu homem

II.
Eu gosto de estar assim
Te ti contigo
Porque tua presença
Me alenta, me conforma e me comove
Dias completamente blues

quarta-feira, outubro 12, 2005


desejo de domingos de sol
de tarde azul e noite chovendo-te
desejo de ronronares e café quente
desejo de abraço manso da gente
de mel no olho e sorriso silente
somente

sábado, outubro 08, 2005

Depois do fim, acumulam-se
os estilhaços e visitam-se
as moradas do costume.
Acendem-se cigarros, em jeito
de desporto, e talvez tudo
isto seja ainda a morte.

Não se contam estórias,
improváveis estórias, sobre
a noite que saqueia os corpos,
restituindo-os à memória
do nada. Empilham-se os dias,
com um terror leve e brando,
com a certeza de que não
voltarão, paciência.

A voz de ninguém há-de atenuar
esse grito - gestos de fuga
e riso que por descuido apenas
deixamos que existam. Encostados
nulos à parede dos minutos,
à espera de quem prometeu não vir
(com que rosto inábil, venha o diabo
e diga). Não vale a pena o esforço,
a inspiração da mágoa sob
os pulmões desatentos:

depois do fim é ainda o princípio.

(Manuel de Freitas)

quinta-feira, outubro 06, 2005

Os teus olhos

E quando você me envolver
nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol

(Chico Buarque, "Lígia")

terça-feira, outubro 04, 2005

Música fala

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

(Trecho de "o meu amor", de Chico Buarque de Hollanda)

domingo, outubro 02, 2005

Ele fala com poesia
e todo prosa
chega, mansamente,
dono do espaço
Eu, que sou lua cheia,
deixo a noite tomar conta de mim

sábado, outubro 01, 2005

A minha queridíssima amiga Tânia me deu esse poema há alguns anos atrás... Ele sempre volta.


Não deixe portas entreabertas
Escancare-as
Ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
Passam apenas semiventos,
Meias verdades
E muita insensatez.

(Flora Figueiredo)

quinta-feira, setembro 29, 2005

Sobre as mlulheres

Navegando pelo site do Releituras (http://www.releituras.com), que eu adoro (!), não resisti a copiar alguma frases coletadas pelo Ruy Castro, ditas por mulheres:

Descasque um amante e descobrirá um inimigo. (Dorothy Parker, poetisa e escritora americana)

Os esquimós têm 52 palavras para designar neve porque ela é muito importante para eles; deveria haver outras tantas para o amor. (Margaret Atwood, escritora canadense)

Sex appeal é 50% o que você tem e 50% o que as pessoas pensam que você tem. (Sophia Loren, atriz italiana)

Cueca de homem, agora, só na cadeira. No armário, nunca mais. (Sonia Azevedo, jornalista brasileira)

Todos os cafajestes que conheci na minha vida eram uns anjos de pessoas. (Leila Diniz, atriz brasileira)

Cantada

Só sei cantá-lo com poesia
Palavra cheia
Pura luxúria

Arrumei a casa
Preparei a cama
Agradinhos pra depois do amor

E o violão, coitado,
continuou mudo em seu canto
Encara essa
que é pra ti
se aguenta o tranco
desbanca a queda
e entra no olho do furacão

quarta-feira, setembro 28, 2005

Há cigarras enquanto formigas
(Elisa Lucinda)

Me sinto inteira nos teus braços
Me sinto inteira a teus pés
Deixe que eu colha meus passos
Que eu tenha direito ao cansaço

Estamos na roda da fortuna
A hora da produção do destino
Vamos lá, meu homem meu menino
que sua mulher e menina
quer contigo trabalhar

E sempre que pudermos
seremos os dois duas cigarras
E entre o gozo e a gargalhada...
Cantar cantar cantar.

terça-feira, setembro 27, 2005

O lembrar insistente
E a insônia
O beijo ausente
E a insônia
A falto do corpo
E a insônia

Horas persistem
E esse samba que não pára de tocar.
Resposta

é pra guardar
teu gosto, teu cheiro
que te observo
pra reservar, egoísta,
o delírio e o deleite
ser dona do descaminho
dessa transgressão inocente

segunda-feira, setembro 26, 2005

A música das almas

"Le mal est dans le monde comme un esclave qui fait monter l’eau."
Claudel

Na manhã infinita as nuvens surgiram como a Loucura numa alma
E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...
Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.

(Vinicius de Moraes)

Soneto da madrugada que não foi

Desperto em mim
e percebo que tua presença
quase ausente
me preenche

Enquanto escuto
num canto inocente
Sai o menino e surge insolente
o homem que pode ser

A voz que revela o anjo
oculto nos olhos claros
fala das coisas belas e de mim

Janelas entreabertas
insistem inquietas
em bater

sábado, setembro 24, 2005


Retorno por quê
se não houve partida
apenas um lacuna
Procedimento close
sem respostas incorretas?
Ela sempre esteve aí
não sabia?
Lua redonda lua
Minha casa é a rua