terça-feira, novembro 18, 2008
Bossa
Não tenho mais tempo pras palavras
Larguei da poesia
Não quero mais essa mesma canção
Adeus, meu bem
Vou ser morena do samba de alguém
Larguei da poesia
Não quero mais essa mesma canção
Adeus, meu bem
Vou ser morena do samba de alguém
sexta-feira, novembro 14, 2008
Madrigal
ele pinta palavras em meu corpo
renascentista
a madrugada é nua e farta
baixa contínua em nós
descendente é o inferno
cadência perfeita
onde descobri a pureza
renascentista
a madrugada é nua e farta
baixa contínua em nós
descendente é o inferno
cadência perfeita
onde descobri a pureza
terça-feira, novembro 04, 2008
domingo, novembro 02, 2008
quinta-feira, outubro 30, 2008
terça-feira, setembro 23, 2008
terça-feira, setembro 02, 2008
terça-feira, agosto 26, 2008
segunda-feira, agosto 25, 2008
Fragmentos do discurso amoroso
Tudo pode ser simples quando bem dito, quando bem desejado, quando bem divertido. O discurso amoroso, considerando-o aqui como aquele que se dispõe ao encantamento, permite, tal como Barthes o fez, expressar (sem máscaras) aquilo que é normalmente secreto. Carpe diem, babe. Você está certo:
"As coisas bem ditas:
benditas coisas"
"As coisas bem ditas:
benditas coisas"
quinta-feira, agosto 21, 2008
segunda-feira, agosto 18, 2008
quinta-feira, agosto 14, 2008
domingo, agosto 10, 2008
sexta-feira, agosto 08, 2008
terça-feira, agosto 05, 2008
Atenção,
isso é um aviso:
eu não sou um lago manso,
eu sou o Abismo.
Fica longe,
olha o perigo!
Se me amar agora,
vai me odiar um dia.
(você pode até gostar da minha anatomia,
mas vai me chamar de grande filha filha de uma vaca)
Pra quem gosta de cartas marcadas:
Eu não valho nada!
Sou Rainha.
(e gosto das cabeças cortadas)
Cuidado, rapaz!
Blefa direito
ou não descobre do que eu sou capaz...
isso é um aviso:
eu não sou um lago manso,
eu sou o Abismo.
Fica longe,
olha o perigo!
Se me amar agora,
vai me odiar um dia.
(você pode até gostar da minha anatomia,
mas vai me chamar de grande filha filha de uma vaca)
Pra quem gosta de cartas marcadas:
Eu não valho nada!
Sou Rainha.
(e gosto das cabeças cortadas)
Cuidado, rapaz!
Blefa direito
ou não descobre do que eu sou capaz...
sábado, agosto 02, 2008
Sempre me surpreendo com o que sou capaz de dizer quando bebo. Mas me surpreendo ainda mais com o que os outros dizem na mesa ao lado quando o fazem. Aí vai então, da série Frases alheias de boteco: A vida é um sexo!
(Análises sobre os sentidos ou produções acerca da situação hipotética em que foi dita tal pérola são bem-vindas)
(Análises sobre os sentidos ou produções acerca da situação hipotética em que foi dita tal pérola são bem-vindas)
quinta-feira, julho 31, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
segunda-feira, julho 28, 2008
Os gatos (excerto)
(..)
Os gatos jamais me dêem a sensação
à toa
de ter adormecido antes do perigo
onde há carne, e líquido, e suor lento
engolindo a vontade da Palavra.
Que culpa tenho deste sono que se origina
antes de mim,
na dúvida de saber que sorriso fez
os gatos de músculo me atentando
me querendo sem roupas e ao frio
dos telhados
escrevendo as coisas felinas confundidas
e seus pulos imitando sem desenho
“onde a loucura dorme inteira e sem lacunas”.
Ana C.
Os gatos jamais me dêem a sensação
à toa
de ter adormecido antes do perigo
onde há carne, e líquido, e suor lento
engolindo a vontade da Palavra.
Que culpa tenho deste sono que se origina
antes de mim,
na dúvida de saber que sorriso fez
os gatos de músculo me atentando
me querendo sem roupas e ao frio
dos telhados
escrevendo as coisas felinas confundidas
e seus pulos imitando sem desenho
“onde a loucura dorme inteira e sem lacunas”.
Ana C.
sexta-feira, julho 18, 2008
O dia da criação
Macho e fêmea os criou.
Bíblia: Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinícius de Morais
(in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
*****
Tá, eu sei que é sexta, mas esse poema não saiu da minha cabeça.
Bíblia: Gênese, 1, 27
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinícius de Morais
(in Poemas, sonetos e baladas
in Antologia Poética
in Poesia completa e prosa: "O encontro do cotidiano"
*****
Tá, eu sei que é sexta, mas esse poema não saiu da minha cabeça.
segunda-feira, julho 14, 2008
Era noite quando ela amanheceu. Os olhos roucos, cansados de tantos ver. A mão pequena tateou pelo escuro do quarto à procura do corpo ao seu lado na cama. Encontrou o sussurro perdido na sombra. Era o vento na rua ou a voz do fantasma quem a chamava?
Esfregou com força o rosto no tecido da fronha. O travesseiro era o silente e fiel depositário de seus segredos. (Se o partissem, despejaria em correnteza todas as suas lágrimas contidas)
Queria mover-se e precipitar-se para a noite. Chovia agora uma água miúda que tocava no vidro uma delicada partitura. Queria chover-se também, confundir as gotas. Fundir pureza e dor.
O corpo pregado à cama respirava autônomo. Ele não lhe pertencia mais. Emoldurado entre os lençóis desfeitos permanecia onírico.
Todas as suas partes uivaram em cio agudo, inundando de não-palavras a escuridão.
Esfregou com força o rosto no tecido da fronha. O travesseiro era o silente e fiel depositário de seus segredos. (Se o partissem, despejaria em correnteza todas as suas lágrimas contidas)
Queria mover-se e precipitar-se para a noite. Chovia agora uma água miúda que tocava no vidro uma delicada partitura. Queria chover-se também, confundir as gotas. Fundir pureza e dor.
O corpo pregado à cama respirava autônomo. Ele não lhe pertencia mais. Emoldurado entre os lençóis desfeitos permanecia onírico.
Todas as suas partes uivaram em cio agudo, inundando de não-palavras a escuridão.
quinta-feira, julho 10, 2008
Comunhão
O corpo é partido.
a chaga rasgada do pulso
preenche de vinho o cálice
martelam badaladas
palavras em uníssono
gemidos em ladainha
já não há mãos enlaçadas
nem palavras de perdão.
(Madalena espalha as pedras para não perder o rumo)
a chaga rasgada do pulso
preenche de vinho o cálice
martelam badaladas
palavras em uníssono
gemidos em ladainha
já não há mãos enlaçadas
nem palavras de perdão.
(Madalena espalha as pedras para não perder o rumo)
domingo, junho 29, 2008
Dead line
Embalava as pernas. Desde criança embalava as pernas quando pensava. Gostava de sentir o vento morno enquanto observava a chaminé da Usina perfurando o céu. Do último andar era possível ver o sol ser engolido pelas águas escuras do Guaíba. E ele gostava de sentar-se ali, no terraço do edifício, os olhos ainda tontos de tanto ver. Depois disso, as idéias sempre chegavam.
................................
Seu corpo cortou o espaço e invadiu a calçada da Rua da Praia.
Era domingo e ele precisava da notícia.
................................
Seu corpo cortou o espaço e invadiu a calçada da Rua da Praia.
Era domingo e ele precisava da notícia.
quinta-feira, junho 12, 2008
Amor, sobrenome Passagem
Quando o Amor chegar, estarei inteira. Para poder ser sua, inteira. Porque Ele não aceitaria menos. Não aceitaria metade de mim (mesmo eu sendo metade sua, serei uma metade inteira).
Vai me ligar para saber o que levar para o jantar e eu vou pedir um corte de carne, pensando que deveria ter respondido Amor. Não haverá mais fome em mim quando Ele chegar. Com flores e suspiros.
O seu sorriso será tão encantador quanto os seus olhos quando me seduzirem, cúmplices. Ele saberá dizer o que precisa ser dito e, surpreendentemente, vou calar quando Ele chegar.
Vai arrancar-me a preguiça e eu vou roubar seus silêncios. Respeitaremos as pausas e os sinais fechados. Vamos beijar com o corpo, vamos ler juntos e em voz alta e seremos muito ridículos e banais: cinema, café, boteco, mercado. Par. Casalsinho. Pombos. Apaixonados. Mão dupla. Clichês.
Vamos dançar juntos - pela noite e pela vida. Gostaremos de chuva, de estradas, de estrelas, de lua cheia, de rios caudalosos, de sonhos vadios, de palavras, de abismos, de riscos e papéis.
Quando Ele esquecerá os tempos, os verbos e os nomes ao cruzar a porta e se reconhecer no espelho.
Vai me ligar para saber o que levar para o jantar e eu vou pedir um corte de carne, pensando que deveria ter respondido Amor. Não haverá mais fome em mim quando Ele chegar. Com flores e suspiros.
O seu sorriso será tão encantador quanto os seus olhos quando me seduzirem, cúmplices. Ele saberá dizer o que precisa ser dito e, surpreendentemente, vou calar quando Ele chegar.
Vai arrancar-me a preguiça e eu vou roubar seus silêncios. Respeitaremos as pausas e os sinais fechados. Vamos beijar com o corpo, vamos ler juntos e em voz alta e seremos muito ridículos e banais: cinema, café, boteco, mercado. Par. Casalsinho. Pombos. Apaixonados. Mão dupla. Clichês.
Vamos dançar juntos - pela noite e pela vida. Gostaremos de chuva, de estradas, de estrelas, de lua cheia, de rios caudalosos, de sonhos vadios, de palavras, de abismos, de riscos e papéis.
Quando Ele esquecerá os tempos, os verbos e os nomes ao cruzar a porta e se reconhecer no espelho.
quarta-feira, junho 04, 2008
Vontade de te ver sorrir mundo. Vontade de rir do teu riso frouxo de menino-homem. Dos teus olhos estrelando, explodindo diante das minhas bobices de mulher-menina. Do meu choro de felicidade compartilhada e incontida. Porque não precisa mais ser secreta.
Um livro de bolso: citações de todos os nossos autores escritas com letra de professora em papel colorido. As músicas selecionadas pra ouvir dormindo, pra cantar sozinho, pra cantar comigo, pra sentir saudades, pra sentir. A camiseta com palavras de ordem. Uma caixinha com corações de origami: 365. Cartas. A frase de Frida Kahlo em moldura. (A vida passa sem que tu saibas disso.)
O presente é um armário repleto de sonhos guardados, esperando que o tempo mude pra poderem existir.
Um livro de bolso: citações de todos os nossos autores escritas com letra de professora em papel colorido. As músicas selecionadas pra ouvir dormindo, pra cantar sozinho, pra cantar comigo, pra sentir saudades, pra sentir. A camiseta com palavras de ordem. Uma caixinha com corações de origami: 365. Cartas. A frase de Frida Kahlo em moldura. (A vida passa sem que tu saibas disso.)
O presente é um armário repleto de sonhos guardados, esperando que o tempo mude pra poderem existir.
domingo, junho 01, 2008
Nasci enforcada no cordão umbilical.
Fui atropelada duas vezes: aos dois meses e dez anos depois
Usei botinhas ortopédicas.
Rolei três andares de escada aos quatro.
Sinto cólicas toda vez que menstruo.
Pari uma filha.
Já fui cinza.
Tenho palavras no corpo e nas mãos.
Tenho paixão pelo abismo
e um álbum de cicatrizes.
E me perguntas se tenho medo de sofrer...
Fui atropelada duas vezes: aos dois meses e dez anos depois
Usei botinhas ortopédicas.
Rolei três andares de escada aos quatro.
Sinto cólicas toda vez que menstruo.
Pari uma filha.
Já fui cinza.
Tenho palavras no corpo e nas mãos.
Tenho paixão pelo abismo
e um álbum de cicatrizes.
E me perguntas se tenho medo de sofrer...
segunda-feira, maio 26, 2008
quinta-feira, maio 08, 2008
Considerações sobre nada
Estou lendo "Cartas apaixonadas de Frida", uma complilação das mensagens da artista mexicana Frida Kahlo aos seus amores: amigos queridos, familiares, namorados, amantes. Inspirador. Dá vontade de sair escrevendo tudo o que se passa na cabeça a qualquer das pessoas que rouba meus pensamentos. E é o que tenho feito.
São as cartas que eu não mando. O dia triste e o amor ainda guardado confessado ao amante perdido, a felicidade do riso frouxo que me dá minha filha em sua surpreendente floração, a gratidão aos amigos, as saudades de tanta gente, os medos e perguntas sem respostas aos pais, as expectativas de futuro sobre meus alunos.
As palavras têm escapado de mim como sempre fizeram as lágrimas. Aos borbotões, explodindo, aguaçando. E eu ando seca de qualquer outra coisa que não seja discurso.
São as cartas que eu não mando. O dia triste e o amor ainda guardado confessado ao amante perdido, a felicidade do riso frouxo que me dá minha filha em sua surpreendente floração, a gratidão aos amigos, as saudades de tanta gente, os medos e perguntas sem respostas aos pais, as expectativas de futuro sobre meus alunos.
As palavras têm escapado de mim como sempre fizeram as lágrimas. Aos borbotões, explodindo, aguaçando. E eu ando seca de qualquer outra coisa que não seja discurso.
quarta-feira, maio 07, 2008
segunda-feira, maio 05, 2008
A media luz
Quando ele partiu, Mariana Rosa fumou um maço de cigarros e gastou três pacotes de lenços de papel. Durante um mês a voz dele deitou-se no lado direito da cama e sussurrou imoralidades em seu ouvido. Na última sexta-feira, no lixo do prédio, vários discos de Gardel foram encontrados. Todos quebrados.
domingo, maio 04, 2008
Uma mulher parindo um filho
Um gato no cio no telhado vizinho
Um bêbado dormindo na calçada do outro lado da rua
A vitória do time no campeonato estadual de futebol
Quarenta e seis minutos do segundo tempo
Quarenta e dois milímetros de cabelos a mais na cabeça
Alguns brancos
Um cigarro queimando sozinho no cinzeiro
Uma lista de supermercado
Uma fila de ônibus
Trinta dias
Nomes riscados na agenda de telefone
Três sacolas de lixo
Nove livros que ainda não foram lidos
Chuva
Tudo passa
Antes da cicatriz sempre existe a espera
Um gato no cio no telhado vizinho
Um bêbado dormindo na calçada do outro lado da rua
A vitória do time no campeonato estadual de futebol
Quarenta e seis minutos do segundo tempo
Quarenta e dois milímetros de cabelos a mais na cabeça
Alguns brancos
Um cigarro queimando sozinho no cinzeiro
Uma lista de supermercado
Uma fila de ônibus
Trinta dias
Nomes riscados na agenda de telefone
Três sacolas de lixo
Nove livros que ainda não foram lidos
Chuva
Tudo passa
Antes da cicatriz sempre existe a espera
sábado, maio 03, 2008
Chegou sem que ela percebesse
Tomou conta de seu corpo
de suas noites e de seus dias
Beijou-lhe as mãos, os seios, as têmporas
Tornou-se sua imagem no espelho
Outra e tão conhecida
Na última primavera,
escorregou os dedos sobre os longos cabelos
fechou seus olhos com delicadeza
(para que não o visse partir)
O Tempo não sabia, entretanto,
que a deixara grávida de Vida
Tomou conta de seu corpo
de suas noites e de seus dias
Beijou-lhe as mãos, os seios, as têmporas
Tornou-se sua imagem no espelho
Outra e tão conhecida
Na última primavera,
escorregou os dedos sobre os longos cabelos
fechou seus olhos com delicadeza
(para que não o visse partir)
O Tempo não sabia, entretanto,
que a deixara grávida de Vida
quinta-feira, maio 01, 2008
no escuro, sobre o livro morno
descansam os olhos do menino
não há ponteiros pra gerar o tempo
em nuvens caminha o sonho
lento e velho como alma
sábio de que nunca é perdido
aquilo que se tem chave
o quarto murmura as pedras do caminho
em que saltita dourada dorothy
deveras
Melancolia não cabe em palavra
nem Amor
descansam os olhos do menino
não há ponteiros pra gerar o tempo
em nuvens caminha o sonho
lento e velho como alma
sábio de que nunca é perdido
aquilo que se tem chave
o quarto murmura as pedras do caminho
em que saltita dourada dorothy
deveras
Melancolia não cabe em palavra
nem Amor
terça-feira, abril 29, 2008
"Rita, guardei essa mensagenzinha
Para que os dias nasçam em amarelo
e as flores brotem das vidraças
Para que as portas saiam correndo pela rua
e a passagem fique sempre escancarada
Guardei essa mensagenzinha pra ti
Para o teu travesseiro e teu vestido de bolinhas
Para teu rosto largo de mulher ligeira
para teus brotos que sempre explodem
E para as noites que nunca acabam
Guardei porque era tua"
E porque era minha, tomei a liberdade de publicar sem autorização prévia do Tiago Collovini, meu amigo-amor, que compartilha das palavras e dos silêncios todos.
Tomei a liberdade de publicar porque amor se divide, porque amor (se) alimenta, amor faz sorriso brotar (mesmo quando se pensa que ele não há).
Tomei a liberdade de publicar para agradecer aos amigos todos que me levam nos braços quando meus pés ardem ou minhas asas quebram ou meus sonhos entram em profunda letargia.
Pelas mãos, pelos pés, pelos ouvidos, pelas bocas repletas de beijos, chimarrão, alentos e cafés, pelos olhos, pelos textos próprios e alheios, pelo meu nome em vocativo, pelos seus em oração. Obrigada.
Para que os dias nasçam em amarelo
e as flores brotem das vidraças
Para que as portas saiam correndo pela rua
e a passagem fique sempre escancarada
Guardei essa mensagenzinha pra ti
Para o teu travesseiro e teu vestido de bolinhas
Para teu rosto largo de mulher ligeira
para teus brotos que sempre explodem
E para as noites que nunca acabam
Guardei porque era tua"
E porque era minha, tomei a liberdade de publicar sem autorização prévia do Tiago Collovini, meu amigo-amor, que compartilha das palavras e dos silêncios todos.
Tomei a liberdade de publicar porque amor se divide, porque amor (se) alimenta, amor faz sorriso brotar (mesmo quando se pensa que ele não há).
Tomei a liberdade de publicar para agradecer aos amigos todos que me levam nos braços quando meus pés ardem ou minhas asas quebram ou meus sonhos entram em profunda letargia.
Pelas mãos, pelos pés, pelos ouvidos, pelas bocas repletas de beijos, chimarrão, alentos e cafés, pelos olhos, pelos textos próprios e alheios, pelo meu nome em vocativo, pelos seus em oração. Obrigada.
segunda-feira, abril 28, 2008
(Los Hermanos, "Adeus você", gravação ao vivo no Cine Íris. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=kcCco0I9OA0)
*******
Porque o resto é silêncio
E esqueci como se canta
E esqueci como se dança
E esqueci como se chora
E esqueci como se esquece
Porque eu grito no escuro
Porque eu sei
Só esqueci como dizer
domingo, abril 27, 2008
sábado, abril 26, 2008
Bíblico
Carmela Pedrozo, sábia bruxa dos pampas, sempre dissera que derrubar sal era um sinal de desgraça próxima.
No dia 21 de abril de 2008, enquanto Margarida Pedrozo cozinhava, distraiu-se e deixou cair o vidro inteiro de sal. Lembrou-se da avó e derramou um rio de lágrimas, mas convenceu-se de que tudo não passava de superstição. Mais tarde, voltou a chorar. E de novo. E de novo.
Nos seguintes quarenta dias e nas seguintes quarenta noites, Margarida aprendeu também o significado da palavra dilúvio.
sexta-feira, abril 25, 2008
quinta-feira, abril 24, 2008
haicais (2000)
no varal, ao vento,
resquícios de corpo
perdendo tempo
***
O cetim sem ti
Emaranhado
Perde os sentidos
***
Amor-perfeito
Murchando na janela
Saudades dela
resquícios de corpo
perdendo tempo
***
O cetim sem ti
Emaranhado
Perde os sentidos
***
Amor-perfeito
Murchando na janela
Saudades dela
quarta-feira, abril 23, 2008
Salve, Jorge!
Jorge vestiu armadura
Fez o medo virar pó
Jorge, que era romano,
Queria tanto ser santo
Virou também homem só
Salve Jorge
Montou no cavalo branco
Como príncipe encantado
Trocou o mal pelo mal
Lança por encruzilhada
Pecado pelo altar
Salve Jorge
Jorge perdeu poesia
Jorge encontrou oração
Cansou do povo da rua
Levou a casa pra lua
Mata por dia um dragão
(** dia 23 de abril, dia de São Jorge/Ogum)
Fez o medo virar pó
Jorge, que era romano,
Queria tanto ser santo
Virou também homem só
Salve Jorge
Montou no cavalo branco
Como príncipe encantado
Trocou o mal pelo mal
Lança por encruzilhada
Pecado pelo altar
Salve Jorge
Jorge perdeu poesia
Jorge encontrou oração
Cansou do povo da rua
Levou a casa pra lua
Mata por dia um dragão
(** dia 23 de abril, dia de São Jorge/Ogum)
terça-feira, abril 22, 2008
quarta-feira, abril 02, 2008
Sacrilégio
Se é santo teu nome
profano-o em minha boca
homem
pêlo, pele, pau
rasga-me a carne a navalha
explode meus poros
abertos
Se sempre fui santa
teu gozo me torna puta
mulher
cadela, vadia, cretina
embalo o menino nos seios
desabrocho a rosa orvalhada
secreta
Fiéis, adoremos
profano-o em minha boca
homem
pêlo, pele, pau
rasga-me a carne a navalha
explode meus poros
abertos
Se sempre fui santa
teu gozo me torna puta
mulher
cadela, vadia, cretina
embalo o menino nos seios
desabrocho a rosa orvalhada
secreta
Fiéis, adoremos
quinta-feira, março 27, 2008
Quaraí
No quintal da minha casa nasceu um deserto
Eu era pequena e gostava de queimar as solas dos pés na areia quente
Me fazia gigante e tocava com dedos de sombra o horizonte
Plantei toda querência nos fundos da minha infância
Pra inundar para sempre o meu particular sertão
Eu era pequena e gostava de queimar as solas dos pés na areia quente
Me fazia gigante e tocava com dedos de sombra o horizonte
Plantei toda querência nos fundos da minha infância
Pra inundar para sempre o meu particular sertão
quarta-feira, março 26, 2008
quando eu era menina, eu gostava dos muros
havia o da escola e os beijos fugidios
capote que protegia o corpo dos olhos e do minuano
o da casa era travesseiro
compartilhar de estrelas
gaveta de cochichos
em todos me escondia
tornava-me grafite
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chovia
minha cidade tem um muro e ele não é meu
guarda os cabelos de um rio
ondas vermelhas em fim de tarde
suas meninas não tem segredos
nem corpos que se escondem
gravuras coloridas
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chove
havia o da escola e os beijos fugidios
capote que protegia o corpo dos olhos e do minuano
o da casa era travesseiro
compartilhar de estrelas
gaveta de cochichos
em todos me escondia
tornava-me grafite
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chovia
minha cidade tem um muro e ele não é meu
guarda os cabelos de um rio
ondas vermelhas em fim de tarde
suas meninas não tem segredos
nem corpos que se escondem
gravuras coloridas
escorrendo feito rímel em fim de festa
quando chove
terça-feira, março 25, 2008
sexta-feira, março 21, 2008
Um dia para Tiago
Acordou cedo, como sempre. Varrendo a escuridão e abrindo as janelas pra esvoaçar o sol pela calçada. Espantou os bêbados e seus tijolos. Adormeceu os postes. Fazia isso com a lentidão de quem repete por séculos o mesmo gesto. Uma letra tocando as margens do caderno de caligrafia, e de novo, e de novo, até tornar-se esfera. Como o sol que agora cochilava sobre os telhados da vizinhança. Um gato. Gordo. Como ele, pachorrento e velho. Sem uma utilidade qualquer. O dia postou-se em andor, pra ser santo. Respirou fundo. Era sertão na cidade baixa, mas o cheiro era de mar.
domingo, março 16, 2008
podia ser de março
pau, pedra, temporal
80% do meu corpo
a gota que falta pro final
berço de jangada e boto
podia banhar a menina que passa
espelho de lua com rã ancestral
podia ser chuvinha miudinha
podia chover sem parar
Odoiá, Yemanjá
podia encher a maré
abrir-se pelas mãos de Moisés
guardar o sal nas lágrimas de Portugal
agigantar-se, quase terra
sob aurora boreal
podia faltar, até
se não fossem seus olhos
azul seria só água
pau, pedra, temporal
80% do meu corpo
a gota que falta pro final
berço de jangada e boto
podia banhar a menina que passa
espelho de lua com rã ancestral
podia ser chuvinha miudinha
podia chover sem parar
Odoiá, Yemanjá
podia encher a maré
abrir-se pelas mãos de Moisés
guardar o sal nas lágrimas de Portugal
agigantar-se, quase terra
sob aurora boreal
podia faltar, até
se não fossem seus olhos
azul seria só água
terça-feira, março 11, 2008
sábado, fevereiro 23, 2008
risquei a vida no meu corpo
caderno de caligrafia de menina
(como acertar o horizonte tão reto?)
o borrão é um muro que se vê do espaço
as rasuras escuras escondem o erro
(qual era a palavra querida?)
as linhas continuam nas mãos
pequeninos túneis sem locomotiva
o buraco visto em uma agulha perdida
fechadura
a palavra emenda o mundo
lê histórias pra me fazer sorrir
se choro é porque adormeci
caderno de caligrafia de menina
(como acertar o horizonte tão reto?)
o borrão é um muro que se vê do espaço
as rasuras escuras escondem o erro
(qual era a palavra querida?)
as linhas continuam nas mãos
pequeninos túneis sem locomotiva
o buraco visto em uma agulha perdida
fechadura
a palavra emenda o mundo
lê histórias pra me fazer sorrir
se choro é porque adormeci
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
ando pelas ruas de olhos fechados
sou meus pés descalços na pedra fria
sinto tudo que não posso ver
os bêbados riem porque desconhecem
crianças inocentes e cruéis pinçam as asas coloridas de uma borboleta
o dia é devorado com semente e polpa verde
e os líquidos todos vertem
cachoeira, pranto, sangue, sol
sou a frieza do gelo que se extingue até tornar-se saliva espessa
costuro-me por dentro
agulha engolida com linha prata, cicatriz
as obscuridades se abrem
nascem palavras
ai
sou meus pés descalços na pedra fria
sinto tudo que não posso ver
os bêbados riem porque desconhecem
crianças inocentes e cruéis pinçam as asas coloridas de uma borboleta
o dia é devorado com semente e polpa verde
e os líquidos todos vertem
cachoeira, pranto, sangue, sol
sou a frieza do gelo que se extingue até tornar-se saliva espessa
costuro-me por dentro
agulha engolida com linha prata, cicatriz
as obscuridades se abrem
nascem palavras
ai
domingo, fevereiro 17, 2008
caixinha na cabeceira
a chave em bolso de calça
esquecida na lavanderia
mala roxa guardando lembranças
retratos antigos
do que fui um dia
os cheiros dos homens que fui
as mechas dos cabelos que tive
e algumas pedras
o que pesa é a saudade
e aquilo que eu não sei
frágil tatuado no lado esquerdo
pra poder não partir
a chave em bolso de calça
esquecida na lavanderia
mala roxa guardando lembranças
retratos antigos
do que fui um dia
os cheiros dos homens que fui
as mechas dos cabelos que tive
e algumas pedras
o que pesa é a saudade
e aquilo que eu não sei
frágil tatuado no lado esquerdo
pra poder não partir
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
Oscuridad
Nem é maio, mas é tudo muito rápido e eu flutuo - um obelisco (monumento, falo) em névoa azul penetrando a treva. Nos esgotos correm os trens e os subterrâneos desejos, oscuridades sob os passos dos que sempre andam (e nem sempre vêem). Subtem-se, sublimados pelo ar de prata. Abelhas riscam o asfalto largo cercadas de concreto e história. As palavras gritam nas paredes das casas e das calçadas. Nem é maio, mas elas estão sempre esperando filhos, embaraçadas. Uma casa cor-de-rosa ergue-se majestosa fazendo sombra sobre os títeres. Nem é maio, mas venta. Buenos Aires é uma cidade pra se morrer lentamente, asfixiando-se em silêncios, cafés e tangos de Gardel.
terça-feira, janeiro 29, 2008
segunda-feira, janeiro 28, 2008
domingo, janeiro 27, 2008
sábado, janeiro 26, 2008
Acaso o vento passe
abertas as portas da Casa
o Vento invade sem pudor
acaricia suas paredes mornas
escancara as limpas janelas
tira tudo do lugar
cobre o chão de folhas e flores
até parecer jardim
o Vento bagunça certezas de tijolos e concreto
até a Casa tornar-se ar
depois silencia e parte
batendo a porta
nas cores dos objetos
o tempo deposita pó
amarela os sorrisos dos retratos
só cantam os fantasmas e as coisas mortas
Casa trancada no sótão
só espera furacão
quarta-feira, janeiro 16, 2008
domingo, janeiro 13, 2008
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