terça-feira, outubro 31, 2006

quem tem medo?

lobo mau
doce menina
olhos caninos
noite escura
chuva fria
estrada deserta
pra nos devorarmos melhor

segunda-feira, outubro 30, 2006

Significado do nome

um jardim pincelado de branco
um espaço cheio de mim
flor clara e bonita
a margarita

quinta-feira, outubro 26, 2006

Há um silêncio gordo
com peso da calmaria
que antecede o temporal

Não se move folha
Não se move vento
Nada se modifica

É tudo estável e inseguro
porque não há conforto no previsto
Ele é porque é
Aquilo
Igual
Imutável
Dèjá vu

A dor de ser está no saber que tudo é
Voltas em torno de um mesmo si

quarta-feira, outubro 25, 2006

pequena de amor
escondo a dor sob as mãos
na concha sou mesmo pérola:
brilhante, rara e eterna

domingo, outubro 15, 2006

tens o peito em correnteza
água-fúria, água-viva
deixas meu barco sem porto
fazes cachoeira em meu corpo
que sem ti só faz chorar

teus olhos enluarados
qual boto, bicho encantado
cantam sereias nas noites
deixam caminho de estrelas
por onde me arrasto, aos teus pés

és fruto da madrugada
me preenches com teu nada
me deixas a casa vazia
mas a alma enfeitiçada

tudo em ti é tempestade
é torrente, dilúvio, aguaçal
espelho turvo de céu
onde deságuam os sonhos
que fazem o amor, temporal

quinta-feira, outubro 12, 2006

Enquanto voas, passarinho
Cato as notas da tua canção
Migalhas das quais sobrevivo
Aninhada em minha solidão

A menina não tem asas
Ela não pode voar
Mas tem pés de bailarina
Te ensina a cirandar

Enquanto cantas, passarinho
Colho acordes, flor em flor
Jardim no qual desabrocham
Botões coloridos de amor

A menina já não dorme
Aguardando o teu pousar
Tem na mão o coração
Que só sabe te esperar

segunda-feira, outubro 09, 2006

sentado sobre nuvens
um menino de milênios
colhe estrelas cintilantes
e distrai-se jogando-as
uma-a-uma, cá embaixo,
na alma distraída dos passantes

saltitando sobre nuvens
um menino de milênios
pega cores de uma caixa
estende cada uma delas,
tira-por-tira, delicadamente,
depois escorrega por elas
até fazer-se homem, mortal

caminhando quase austero
os olhos de infância eterna
buscam nos olhos que caminham
suas pratinhas perdidas
quando as encontra, por vezes,
refletidas nos espelhos
brinca com elas, magnetiza
e põe no bolso a alma que a guarda

caminhando quase antigo
sorri homem, todo menino
no peito lotado de brilho
protege, lustra, lapida
seus presentes de eternidade
que ele chama de amigo

domingo, outubro 08, 2006

abro a janela azul
(como quem desata laço roxo de fita)
e dela salta o sol do presente

ele me abraça, me festeja
ele me cobre de beijos quentes
ele faz firulas e sombras
ele é macio e canta futuros sem nuvens

eu sou só desejo
nesses braços quentes

terça-feira, outubro 03, 2006

"Portanto, não tenham medo deles. Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido." (Mt, 10:26-27)

O sol a pino queima minha cabeça
O sol a pino arde em minha cabeça que dói
Ela está atrás de mim e não a vejo
Ela é maior e me aponta o dedo
Eu fecho os olhos
(e o que vejo é o escuro)
Ela está ao meu lado
(e o que vejo é o escuro)
Ela é o espelho do meu avesso
Ela é a sombra da qual todos tem medo
Ela é o duplo
Ela é o eclipse
Ela é o esquerdo
Eu abro os olhos e a vejo
Ela está na minha frente
Igual, me olha com os olhos que tenho
Claro-escuro dança sobre os meus pés

domingo, outubro 01, 2006

Ana com flores na cabeça
Rosas rubras de paixão
Miosótis pálidos adormecidos
Gérberas laranja amanhecendo
Azaléias roxas de raiva
Gineceus em festa
Saltando do alçapão

Ana caminha gazela
Ana brinca, Anaquarela
Anistia, amistad
Ana é ela
Ana é bela