segunda-feira, janeiro 22, 2007

o primeiro prepararia a terra
para torná-la madura
esqueceu-a marcada de dentes

o segundo plantaria os beijos
de cor roxa, branca e amarela
deixou-me só o silêncio

o terceiro colheria as flores
trouxe nas mãos os gafanhotos
devoraram meu jardim

Este chegou sem promessas
arou a terra, enterrou as sementes
brotam amores-perfeitos em botão

domingo, janeiro 21, 2007

este vão em que me abismo
tão profundo, impreciso
vão desejo, em que encontro
no teu beijo, o perigo
em teus braços, o amigo

O silêncio ancestral
que precede nossos laços
avisam que que teu riso
é meu abrigo, este vão

quinta-feira, janeiro 18, 2007

meu ouvido descansa em teu peito
onde mergulho e adormeço
vôo rio abaixo, pra dentro
nos redemoinhos dos teus pêlos

me dá mais vento
nas notas do teu violão
me dá mais tempo
na letra da tua canção

meus olhos se perdem nos traços
que guardam todas as cores
vou água abaixo, pra dentro
embarco nos teus pensamentos

me dá o abismo
que eu vôo em teus braços
me dá o caminho
que eu sigo teus passos

meu olvido se afoga nos beijos
que roubam pedaços de mim
vou água abaixo, pra dentro
abro as portas dos teus segredos

domingo, janeiro 07, 2007

ela tem cabelos vermelhos
e lágrimas imensamente blues.
habita nela o dilúvio que atormenta os homens.
um mar bravio e sensível em que se afoga
quando tudo parece sereno

ela tem olhos grandes
e noites escuras com estrelas.
escondem-se nelas os medos da infância.
uma caixa de palavras em que se escreve
quando só o que há é silêncio.

ela tem sorrisos de mil dentes
e lantejoulas laranjas no vestido.
revela-se nela a lucidez dos loucos.
um copo de vinho em que se atormenta
quando nada é o sentido.

ela tem mãos de dedos infinitos
e cristais que machucam o olvido.
rasgam-se nela os desejos dos bêbados.
um leito diáfano e profundo
quando tudo mais foi esquecido.

ela tem chagas no peito
e luas que se tornam cheias num segundo.
adormecem nela os segredos dos amantes.
um poema profano e pudico
quando todo sonho foi perdido.

mas o que ela não tem
é que a tornam o abismo.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Não é do eco de sua voz que ela tem medo no fundo do poço; é do silêncio das suas verdades. Lá, no escuro, a água nunca é parada.

Olha. Há limo... e é verde.

terça-feira, janeiro 02, 2007

no translúcido cristal
a órbita caótica dos planetas
criava ondas no resto de veneno
bebi o que havia no copo
(para descobrir seus segredos)
sorvi com doçura o gosto
ácido de sorriso e dor
afoguei-me no seu obscuro
e preenchi-me das palavras
e dos seus sem-sentidos
um sol me olhava pelas costas
e minha lua tornava-se cheia
é possível traçar o mapa
se há tantos ventos na rosa?