quinta-feira, abril 27, 2023

   meu bem, 

   às vezes estou bem. ainda não sei como escrever medo e desejo porque é outono e faz quente. existir é deixar de ser invisível. tenho me perguntado como soltar a palavra acuada, acusada. deixá-la sair assim: pelada, desavergonhada, safada, pra falar que gosta, só gosta. como verbar o corpo: beijar, dormir, sussurrar, sorrir, conversar, olhar, roncar, beber, segredar, gozar, estar, sem dever depois? 

(por isso disfarço e alimento vícios secretos inconfessáveis)

não sei dizer mais, disse dois ou três poemas atrás. então engulo. amarga. regurgito.  ácida. engulo de novo.  ressentida. calo e vomito. e pela minha pele queimada escorrem suor e culpa, ardem vergonhas flamejantes. 

grito tão incompetente que.




(assino agora essa carta de horror. nome de novela mexicana. propício.)


                   A Impostora 



p.s. poderiam ser dois textos, mas é um só. decidi no caminho. 

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