sexta-feira, outubro 13, 2023

nunca pedir
pra não incomodar
nem mais bolacha, 
nem pra dormir fora,
nem pra deixar a luz acesa

não falar

não rir alto

ser agradável

ser ajeitadinha

(bonita não é)

ser adequada

frequentar

comer sem descolar os cotovelos

(quem tem asa é galinha)



minha avó criava muitos bichos. morava numa casa pré-fabricada que cheirava a quesosene uma vez por ano. eu cheirava a suor, poeira e Kollynos. os dias acabavam no rio às dez horas da noite. as crianças gritavam nas ruas inteiras, encondiam-se, encontravam-se, empulgavam-se com os cachorros e metiam-se com os pássaros nos ninhos. eu tinha medo de sapo, de mboitatá e da foto do tio-avô morto, que ficava debaixo da renda da cortina cor de rosa que cobria as paredes de dentro. minha avó era um mundo inteiro e cheirava a alho, pão caseiro e colônia de rosas barata.


lá, migalhas eram sobre galinhas e codornas. nunca sobre amor, essa fartura. 

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