sexta-feira, junho 22, 2007

Amor inteiro

Assisti a um filme: “O amor não tira férias”, com ninguém menos que (a tão simbólica para mim) Kate Winslet. A personagem não tinha os cabelos laranja, nem era mãe de uma menina de três anos em crise entre a maternidade e a feminilidade, não estava lendo Mme. Bovary (eu estou, agora), mas me revelou da mesma “coincidente” e abrupta forma.
Sua máscara desta vez era a de uma mulher apaixonada e que ocupava somente o espaço secundário na vida do homem que desejava - um clássico e familiar caso de amor platônico. O cara era tudo de bom, lindo, inteligente, carinhoso – perfeito! - e ela o esperava há um certo tempo, crente de que o que sentia se realizaria em algum momento, mas não foi o que aconteceu.
Provou-se que quem espera, sempre cansa. E ela, exausta, resolve fugir pra outro mundo, desta vez real. Escondida em outra cidade, conhece um velho roteirista (viva os oráculos modernos e o cinema que revela essas inquietudes diárias) que anuncia: nos filmes sempre há duas atrizes junto ao protagonista – a melhor amiga e a atriz principal – e você não serve pra o primeiro papel. A moça se dá conta (e eu com ela), de que o papel secundário não é para mulheres inteiras e intensas.
Tudo bem, a ressalva para o pacote conto-de-fadas-felizes-para-sempre, mas por que não concordar que colocar os pés no chão (mesmo que seja atirando-se em um abismo) provoca as melhores mudanças?
Queria mesmo que fosse diferente, mas não é. Amor platônico não se cura com trepadas homéricas (isso só o disfarça); amor platônico se cura com amor real, sem entreveros, com pedras (e não muros) no caminho. Amor platônico se cura com silêncio e um pouco de escuridão, com portas (e janelas de MSN) fechadas. Amor platônico se cura com Amor-próprio.
Amor que precisa ultrapassar o tempo, o espaço e a falta de reciprocidade só é bonitinho em romance romântico, em quadro de programa sensacionalista, em novela de televisão, nas telas do cinema (até porque é amor alheio). O difícil ou o impossível servem pra roteiro, mas não pra vida essa que nos faz chorar pelas nossas próprias dores.
O meu cupido pediu licença. Eu dei. Até os deuses merecem férias...

3 comentários:

Val disse...

"o papel secundário não é para mulheres inteiras e intensas" Perfeito isso!Posso colocar como frase do meu msn?
Amei teu texto, tu manda bem demais!Tô cansada de te elogiar!Vai escrever mulher, pra uma revista,para um jornal, um livro que nos brinde com tuas idéias, mas deixe este dedinhos ativos!Não suma outra vez!
Bjs!!

Anônimo disse...

Ritinha, adorei tua prosa. Conhecia apenas os versos, mas adorei este texto. Maduro, real e de uma sensibilidade cativante. Gostei muito. Mulher madura que sonha, mas sonhos agora para realizar (realizáveis).
Beijo grande da tua amiga de sempre.
Tânia

Anônimo disse...

Você escreve muito bem, adorei o texto... =)))