segunda-feira, julho 14, 2008

Era noite quando ela amanheceu. Os olhos roucos, cansados de tantos ver. A mão pequena tateou pelo escuro do quarto à procura do corpo ao seu lado na cama. Encontrou o sussurro perdido na sombra. Era o vento na rua ou a voz do fantasma quem a chamava?

Esfregou com força o rosto no tecido da fronha. O travesseiro era o silente e fiel depositário de seus segredos. (Se o partissem, despejaria em correnteza todas as suas lágrimas contidas)

Queria mover-se e precipitar-se para a noite. Chovia agora uma água miúda que tocava no vidro uma delicada partitura. Queria chover-se também, confundir as gotas. Fundir pureza e dor.

O corpo pregado à cama respirava autônomo. Ele não lhe pertencia mais. Emoldurado entre os lençóis desfeitos permanecia onírico.

Todas as suas partes uivaram em cio agudo, inundando de não-palavras a escuridão.

Nenhum comentário: