terça-feira, julho 22, 2025

não lembro de ficar muito em nenhum lugar. ciganas, levávamos a casa pra outro lugar: outro bairro, outra cidade, outro estado, outro país. as pessoas da infância e da adolescência ficaram quase todas pra trás e as memórias se confundiram. não sei se é verdade, eu sempre anuncio antes de repetir. 

hoje, quando me olho no espelho, é o rosto aflito da minha mãe que eu vejo. corpo em fuga. em outro bairro, em outra cidade, em outro estado, em outro país. 

abraço a casa, que é nossa, e permaneço.

segunda-feira, junho 30, 2025



minha mãe amou de um jeito rude. como minha avó a amou. e amou à minha avó, a sua mãe. não abraçar, não elogiar, não enternecer. machucar. ensinar a sobreviver melhor.

quando fotografia amarela, eu me repito o dia nublado e frio. uma criança pequena beija a mãe sob o olhar de outra mãe. 

desde que me lembro, três. sempre juntas. sempre sozinhas. às vezes nós.



domingo, junho 22, 2025

é tempo do esquecimento.
a memória das coisas que poderiam ter sido. 
aquele quase do Sá-Carneiro que vai virar tatuagem. 
todas as coisas que tu nunca escutou.
as listas que coleciono junto com os bichos que liberto das máquinas em postos de gasolina.
tento arrancar das páginas dos livros o luto necessário e deixo a madrugada estraçalhar meus vidros

solitário, um sorriso de canto de boca no peito.